AMAI-VOS UNS AOS LOUCOS – Por Marcelo De Campos Salles
O usuário de drogas não vem, necessariamente, de uma família disfuncional ou com casos de alcoolismo na família. Por mais amor e informações que se tenha, ninguém está imune.
Meus pais são amorosos, tenho três irmãs maravilhosas e um casal de sobrinhos que eu amo. Estudei em colégio particular tradicional. Grande parte dos meus amigos hoje é dessa época e nenhum deles é usuário de drogas. Tive informações e amor como poucos, e tive acesso a drogas como – infelizmente – a maioria têm.
Com vinte e poucos, experimentei maconha. Achei divertido, fumei algumas vezes, mas não se tornou um hábito.
Um pouco mais tarde experimentei drogas sintéticas: ecstasy (ou “bala”) e LSD (ácido). Usei durante um tempo, combinava com festas de música eletrônica. Hoje existem muitas variações dessas drogas sintéticas, estão mais perigosas do que na minha época. É uma droga fácil de transportar, fácil de esconder, fácil de tomar.
Desde que comecei a beber, sempre bebi em excesso. As drogas ilegais passaram pela minha vida, mas a bebida continuou. Conquistei muito sucesso na minha carreira de publicitário, ganhava dinheiro e tinha status. Para você ser alcoólatra você não precisa beber de manhã ou encher a cara todos os dias. Eu não fazia isso. E sou alcoólatra.
Primeiro você bebe muito em algumas festas, toma pileques eventuais. Com o tempo isso deixa de ser exceção e vira regra. O happy hour começa cada vez mais cedo e é cada vez mais frequente. Você não toma dois ou três choppes, toma dez.
Fui experimentar cocaína com mais de trinta anos. Estava bebendo demais e muito infeliz no meu trabalho. Comecei a cheirar não para me divertir, mas para enfrentar a dor. Entrei numa depressão profunda, saí do emprego e bebia e usava cocaína em casa.
Fiquei assim por quase um ano até que me internei numa clínica para dependentes. Faz oito meses que saí, não sinto falta de bebida nem de drogas, escrevi um livro contando histórias da clínica que lançarei em dezembro. Nunca estive tão feliz.
Gostaria de dar um conselho certeiro, uma dica mágica, mas isso não existe. Seus filhos terão oportunidade de experimentar drogas, a decisão, no final das contas, é deles. O que os pais podem fazer é serem pais: conversar, dar amor, procurar saber dos hábitos e das companhias dos filhos.
Acho importante que os pais procurem saber um pouco mais sobre drogas antes de abordarem o assunto. O site do Dr. Dráuzio Varella é uma boa fonte de informações. A maior referência no assunto é o Dr. Ronaldo Laranjeiras, que tem muitos artigos e entrevistas publicados na internet.
Marcelo de Campos Salles
Publicitário e autor do livro “Amai-vos uns aos loucos”
2 Comentários
patricia
17/12/2014 as 00:52Nossa cultura é hipócrita. Faz alusão à um estilo de vida onde “quase tudo” é permitido. Mas nao considera que nem todos possuem as mesmas reações perante a bebida e a droga. ALGUNS SABEM BEM QUANDO É a hora de parar. Outros simplesmente não conseguem. NÃO CONSEGUEM é diferente de não querer. Parece ser muito interessante este livro.
Marcelo de Campos Salles
17/12/2014 as 14:06Patricia, recentemente a Veja SP fez uma matéria com uma modelo usuária de crack que gerou muita repercussão. Nos comentários da internet, aproximadamente metade das pessoas falava algo na linha de “não tenho pena, experimentou porque quis, etc.”. Acho que precisamos discutir o assunto em todas as instâncias, um problema tão comum não pode ser tratado como tabu. Quanto ao livro, aho que é interessante sim, eu recomendo ;).