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O Sol nasce para todos

Mara Gabrilli, surfando no mar revolto, com ondas fortes. Ela está posicionada num tipo de cadeira flutuante, ao seu lado um surfista, nada ao seu lado e outro surfista logo atrás de pé com um remo nas mãos.

Mara Gabrilli surfando com alguns outros surfistas

Lazer e turismo são atividades importantes para a economia de um país, mas também contribuem para o bem estar do indivíduo. Infelizmente, o Brasil está muito aquém, inclusive, do básico.

A condição física ou sensorial de uma pessoa não a impede de desfrutar das belezas e atrações de um lugar. Depois de tetra, eu Mara Gabrilli, tive a incrível experiência de surfar. Apaixonada por água como sempre fui, não pude deixar de aceitar o convite do meu amigo Taiu, que também é cadeirante e mora no Guarujá, litoral sul de São Paulo.

Fico imaginando: se não fosse pela falta de investimento neste tipo de atividade, quantos surfistas com deficiência não estariam agora desafiando as ondas do nosso litoral brasileiro?

Fora do Brasil, ótimos exemplos – em Miami, percebe-se claramente que o Desenho Universal pode ser aplicado em qualquer ambiente, com água e areia. Na praia da Ocean Drive, avenida mais badalada da cidade, há uma esteira feita em treliça, construída sobre a areia, permitindo ao cadeirante fazer tranquilamente o trajeto até o ponto da praia. Só não é melhor porque não leva até o mar.

Há ainda o Board Walk, deck de madeira, totalmente plano, com corrimão em toda a sua extensão que beira a praia. Lá é comum avistar idosos, mães empurrando carrinhos de bebês, crianças, pessoas com deficiência, jovens… Toda a diversidade humana desfrutando o mesmo espaço.

Por aqui, nesse quesito ainda engatinhamos. Embora, já possamos contar hoje com programas como o ‘Praia Acessível’, além de agências de viagem especializadas em ecoturismo e turismo radical adaptados.

Depois de cadeirante, continuei minha busca por novas aventuras. Quando encontro uma brecha em minha agenda de trabalho me mando para algum canto do mundo, seja ele plenamente acessível ou não.

Afinal de contas a inquietude da alma nunca tira férias.

Mara Gabrilli , usando roupas esporte para surf, ela está nos braços de um outro atleta, também vestido com as roupas de mergulho e ao lado um outra jovem caminha, usando com bermuda vermelha e camiseta regata azul.

Mara Gabrilli saindo do mar após surfar em prancha adaptada

 

Mara Gabrilli, deputada federal, com seus longos cabelos loiros, sorrindo, ela usa uma camisa brancaMara Gabrilli, 46 anos, é publicitária, psicóloga, foi secretária da Pessoa com Deficiência da capital paulista e vereadora também por São Paulo. Atualmente é Deputada Federal pelo PSDB.
Aos 26 anos, sofreu um acidente de carro que a deixou tetraplégica. Indignada com a falta de acessibilidade, fundou em 1997 a ONG Projeto Próximo Passo, hoje Instituto Mara Gabrilli, para promover acessibilidade, pesquisas e inclusão social em comunidades carentes e atletas com deficiência. Em Brasília, tornou-se a primeira deputada Federal tetraplégica do Brasil
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O Primeiro Natal de uma Tetraplegica

mara-gabrilli-natal_claudiamatarazzo

Incumbida de escrever esse texto de Natal para o site de minha amiga, fui abatida por uma lembrança de vinte anos atrás, quando retornei ao Brasil tetraplégica, depois de intenso processo de reabilitação nos EUA.

Era uma véspera de Natal.  Além dos movimentos que havia perdido do pescoço para baixo, eu estava visivelmente diferente: com a cabeça raspada, corpo magro…

Mas a mudança principal não era física. Diferente de outras ocasiões, quando retornava de viagem, eu já não tinha meu próprio carro para sair a mil e rever um amigo. Meu apartamento também já havia sido desfeito, assim como minha autonomia de ir e vir para onde bem entendesse.

Naquele Natal também não pude mais voltar a minha cidade (São Paulo). Fui direto para São Bernardo me hospedar com uma amiga da família, já que a casa onde morava e a dos meus pais não tinham acessibilidade. Toda a família teve de ir para essa terceira casa, em uma nova vida.

Pensei que deveria ser a mesma sensação quando se chega a um presídio e todos os seus referenciais ali são diferentes.  E você é obrigado a se adaptar àquele novo universo onde pagará por algo que cometeu.

A diferença é que no caso de uma deficiência ninguém sabe qual dívida está sanando.

O olhar das pessoas e a minha falta de preparo para lidar com tudo aquilo causavam um vazio desconfortante – para dizer o mínimo. Nada era conhecido, embora estivesse retornando ao meu país.

Foi o Natal menos fácil e talvez o dia mais difícil. Mas daquele momento em diante eu sabia que estava preparada para encarar qualquer coisa com menos dor e mais leveza. Tudo seria mais fácil.

E tem sido assim desde então.

 

Mara Gabrilli, deputada federal, com seus longos cabelos loiros, sorrindo, ela usa uma camisa brancaMara Gabrilli, 46 anos, é publicitária, psicóloga, foi secretária da Pessoa com Deficiência da capital paulista e vereadora também por São Paulo. Atualmente é Deputada Federal pelo PSDB.
Aos 26 anos, sofreu um acidente de carro que a deixou tetraplégica. Indignada com a falta de acessibilidade, fundou em 1997 a ONG Projeto Próximo Passo, hoje Instituto Mara Gabrilli, para promover acessibilidade, pesquisas e inclusão social em comunidades carentes e atletas com deficiência. Em Brasília, tornou-se a primeira deputada Federal tetraplégica do Brasil
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Deficiência é não contratar!

rapaz jovem, sentado em uma cadeira de rodas, mexe em algumas pastas de um arquivo

Lei Brasileira da Inclusão – foi pensada para tirar esse imenso contingente da informalidade. Esse, projeto do qual sou relatora, propõe a criação do Auxílio Inclusão, um benefício que será concedido à pessoa com deficiência que ingressar no mercado de trabalho – e não o contrario como acontece com quem não trabalha ou está desempregado

O que muda com esse auxílio? – A ideia é mudar a forma assistencialista com que o Governo trata esse cidadão hoje. Em vez de ficar em casa, recebendo benefícios de subsistência do Estado, a pessoa com deficiência terá direito a um suporte financeiro sim , mas para se tornar mais ativa na sociedade.

Com isso, passará de beneficiada para contribuinte, como todo trabalhador.

Na prática funciona assim: ao ingressar no mercado de trabalho, a pessoa com deficiência deixará de receber o benefício do Governo e passará a ganhar o Auxílio Inclusão, que servirá como um estímulo para que ele se mantenha ativo no mercado .

Esse auxílio também lhe permite arcar – sem prejuízos – com os custos da sua deficiência, como transporte adaptado, órteses, próteses, tecnologias assistivas…

Alívio e vantagem também para a Previdência – que deixará de pagar benefícios integrais para milhões de pessoas e passará a receber a contribuição desses trabalhadores.

O Trabalho dignifica – além de ser, sem dúvida, uma das principais ferramentas de integração social de qualquer ser humano. Sem falar que de garante poder de consumo, dignidade e bem-estar . E, mais importante: é o que nos permite sonhar.

Sem falar que movimenta a economia do país.

Para mim, a felicidade está ligada a minha capacidade de produzir. E, neste sentido, é o trabalho um dos maiores combustíveis para me manter autônoma e realizada. Em breve esperamos que outros tantos brasileiros com deficiência sintam-se assim.

 

 

 

Mara Gabrilli, deputada federal, com seus longos cabelos loiros, sorrindo, ela usa uma camisa brancaMara Gabrilli, 46 anos, é publicitária, psicóloga, foi secretária da Pessoa com Deficiência da capital paulista e vereadora também por São Paulo. Atualmente é Deputada Federal pelo PSDB.
Aos 26 anos, sofreu um acidente de carro que a deixou tetraplégica. Indignada com a falta de acessibilidade, fundou em 1997 a ONG Projeto Próximo Passo, hoje Instituto Mara Gabrilli, para promover acessibilidade, pesquisas e inclusão social em comunidades carentes e atletas com deficiência. Em Brasília, tornou-se a primeira deputada Federal tetraplégica do Brasil
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Vaidade interna – cuidar até do avesso

 Recorte em uma rocha formando um coração cheio de água

 

Bexiga, fígado, pâncreas, rins, pulmões, pele… Beleza. Você já pensou no cuidado que dedica a sua vaidade interna?

Sempre fui uma mulher preocupada com minha saúde e vaidosa, sem excessos. Ao sofrer uma lesão medular, nosso corpo passa por mudanças malucas e nossos órgãos internos, como a bexiga e o intestino, por exemplo, passam a se comunicar de maneira diferente. Entender esse novo mecanismo requer uma atenção quase flutuante, já que a comunicação com o corpo já não tão óbvia.

Esse autoconhecimento é o primeiro passo para resgatar a auto-estima e a beleza.

Com o tempo e por falta de exercícios e atividades, muitas pessoas com deficiência passam horas na mesma posição. Essa condição faz com que os membros enrijeçam e, não raro, seus donos percam a ambição do próprio corpo e acabem adoecendo.

Ser tetra e saudável dá um pouquinho de mais trabalho do que para quem se mexe. Agora, ser tetra e bonita é trabalho árduo! Exige disciplina e uma nova forma de encarar a vida.

Tudo que você come, bebe e os hábitos que adquire deflagram no seu exterior e reflete na forma como as pessoas e você mesmo se enxerga. Saudável, além de energia para produzir, sinto-me bonita por dentro para trabalhar pelo outro e inspirar mudanças.

Com ou sem deficiência – busque formas de cuidar de si mesmo porque o mundo sempre pode esperar um pouquinho enquanto você se prepara para retribuir o que de melhor pode oferecer ao outro.

Espelho de mesa oval com suporte trabalhado em metal prateado

 

 

 

 

 

 

 

 

Mara Gabrilli, deputada federal, com seus longos cabelos loiros, sorrindo, ela usa uma camisa brancaMara Gabrilli, 46 anos, é publicitária, psicóloga, foi secretária da Pessoa com Deficiência da capital paulista e vereadora também por São Paulo. Atualmente é Deputada Federal pelo PSDB.
Aos 26 anos, sofreu um acidente de carro que a deixou tetraplégica. Indignada com a falta de acessibilidade, fundou em 1997 a ONG Projeto Próximo Passo, hoje Instituto Mara Gabrilli, para promover acessibilidade, pesquisas e inclusão social em comunidades carentes e atletas com deficiência. Em Brasília, tornou-se a primeira deputada Federal tetraplégica do Brasil
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