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O céu que nos limita

Renata Souza tem 37 anos, funcionária pública, cadeirante e ama viajar. Sozinha ou acompanhada. Mas, como uma mulher adulta e madura, viajar sozinha jamais deveria ser sinônimo de constrangimento. E foi exatamente isso que viveu ao tentar ir de Vitória para o Recife.

 

Não é a primeira vez que falo sobre os constrangimentos que pessoas com deficiência passam com as empresas aéreas. Os casos são tão inacreditáveis quanto bizarros, pra dizer o mínimo. E parecem não ter fim.

Que despreparo é esse? Ao tentar embarcar, Renata foi impedida pela comissária de bordo e, depois pelo comandante da aeronave. A alegação? Ela deveria usar uma fralda geriátrica para não ter que ir ao banheiro, já que estava sozinha. Ou fralda ou acompanhante. Senão, nada de viagem.

Nada nos obriga a carregar alguém do nosso lado ou ter uma fralda na bolsa para situações de insanidade como essa. O que essa situação comprova é a incapacidade que muitas pessoas ainda têm de aceitar nossa autonomia e reconhecer nossos direitos. Vamos a eles.

A Resolução 280 da ANAC estabelece procedimentos específicos relativos a acessibilidade de passageiros com necessidade de assistência especial PNAE. Ainda temos a Convenção Internacional dos Direitos da Pessoas com Deficiência e a Lei de Acessibilidade 10.098/2000 e a Lei Brasileira de inclusão LBI 13.146/2015. Em todas elas estão previstas o nosso direito à assistência, quando houver necessidade e a nossa autonomia.

Sou uma pessoa muito positiva e otimista, mas diante dos casos intermináveis de aeroportos que acontecem com os viajantes com deficiência, limito a dizer que minha mente não está aberta suficiente para acreditar em grandes mudanças para melhor e nem tampouco estou com uma visão igualmente ampliada para ser criativa em relação ao caos, porque vocês verão ainda por aqui, sobre avião, que as decisões e conquistas do movimento nessa área não são capazes de driblar o fracasso e de tantos absurdos cotidianos. Adoraria saber qual o caminho para estar nas nuvens. Alguém me diz?

 




Quem já ouviu falar no tal do CORE?

Disabled athlete at gym

Pois é: as pessoas que lidam com a saúde ligada ao movimento, devem incluir nos programas de treinos, o trabalho de fortalecimento do tal do core.

Mas, o que é isso? Core, em inglês, significa centro. É uma região do nosso corpo composta de 29 pares de músculos que suportam o complexo “lombo-pélvica-quadril. Esses músculos formam um centro de força que vão manter a estabilidade da coluna lombar e a flexibilidade.

E é importante para que? Ter os músculos do core fortalecidos e acionados de forma correta, é essencial para um maior controle corporal, uma boa postura e claro, prevenir muitas lesões. Pessoas com essas regiões fracas tem mais chances de ter desvios posturais e lesões como hérnias, por exemplo.

No meu dia a dia percebo alguns profissionais que não se atentam para o trabalho de fortalecimento dessas regiões antes de iniciarem o agachamento. E aí, é um tal de jogar quadril para um lado, joelho para o outro… E o resultado desse enfraquecimento e desatenção são dores na coluna, quadril, joelhos. Dá para evitar, né?
Mais simples do que parece – Treinar esses músculos não é difícil. E o melhor: não precisa de aparelhos!

Blog-Core

Experimente tirar um pé do chão e você já vai acionar o core para manter o equilíbrio.

Os exercícios de instabilidade que exigem de você equilíbrio podem ser feitos de forma isométrica (sem movimento) e sem aparelhos. E tem alguns exercícios dinâmicos que podem ser feitos com a utilização de alguns aparelhos específicos como: bolas, bozu, TRX, elásticos etc. Existe uma infinidade de possibilidades, basta ser bem dirigida.

Não tenho a pretensão de passar exercícios por aqui – e isso também não é garantia de um bom treino de core. Assim como existem inúmeras possibilidades de se trabalhar tal região, muitos critérios devem ser avaliados e levados em conta. Mas uma coisa posso afirmar, ter o core forte pode dinamizar e facilitar seus movimentos nas atividades diárias.

Dica- Procure um profissional para começar a sua atividade física. Nunca, jamais, faça qualquer atividade sem acompanhamento.

Bora treinar comigo?




É preciso muito talento para envelhecer

Um casal de aproximadamente 70 anos se abraça rindo aparentando grande felicidade e cumplicidade. Ele de óculos e careca com camisa azul clara ela com uma malha verde clara e cabelos brancos arrumados na altura dos ombros.

O envelhecimento da população é um fenômeno mundial, e claro, se repete no Brasil também.

Envelhecer faz parte do ciclo natural da vida e chegar lá com saúde, e bem estar é o desejo de todos nós –  e o grande desafio hoje.

Mas é inevitável: as alterações fisiológicas do envelhecimento podem e muito limitar a vida. Sobretudo, no que diz respeito à capacidade funcional.

É bem assim: de crianças passamos para a adolescência – e quantas alterações  hormonais ali acontecem …  De adolescente a adulto e de adulto e depois  idoso. Mas essas transformações podem ser amenizadas com cuidado com o organismo.

A alimentação e a prática de exercícios podem diminuir os impactos e tornar ativa e mais prazerosa essa nova fase.

Começar desde cedo –  em viagens ao exterior que fiz com a ginástica artística, sempre me chamou atenção ver idosos circulando e vivendo a velhice com autonomia e disposição para suas atividades do cotidiano. E a resposta para isso é que fazem ginástica desde criança. Ao contrário de nós, brasileiros, que não temos a cultura dos exercícios físicos.

É triste, mas é real –  O Centro Nacional de Estatística para a Saúde estima que cerca de 84% das pessoas com idade igual ou superior a 65 anos sejam dependentes para realizar as suas diárias, constituindo-se no maior risco de institucionalização. Estima-se que em 2020 ocorrerá aumento de 84 a 167% no número de idosos com moderada ou grave incapacidade!!

Qualidade de vida ruim e dependência –  o idoso diminui sua massa muscular, que consequentemente, diminui a capacidade de gerar força, equilíbrio e claro, as chances para as temidas quedas e fraturas, se tornam ainda mais reais.

Que qualidade de vida é essa? há vários fatores envolvidos: de um modo geral, envelhecer  bem significa estar feliz, satisfeito com a vida atual e ter expectativas positivas sobre o futuro.

Bem-estar físico e psicológico, autonomia, vínculos sociais, trabalho, diversão etc., devem ser considerados para uma boa qualidade de vida. E os exercícios?

Já que é inevitável vamos reverter! É preciso pelo menos tentar – por quanto tempo pudermos. Hoje é muito comum ver idosos frequentando academias, especialmente, as salas de musculação.É fato: ninguém obtém mais benefícios com a atividade física que os idosos.  A melhoria na qualidade de vida não aparece só no combate direto ás doenças, mas também, na área psicológica.

A atividade física regular desencadeia alterações hormonais, como a serotonina, que regula o humor e a memoria (xô depressão!), a acetilcolina (xô alzheimer) e a endorfina, que reduz o estresse. Finalmente, “só o ferro salva”!

Brincadeiras à parte – a musculação é uma poderosa aliada para diminuir as transformações do corpo ocasionadas pela passagem do tempo e ainda, a musculação age de forma direta no cérebro, deixando-o mais ativo, sem danos. Partiu treinar?

Foto em preto e branco, de uma bebê com 6 meses, recebendo o batismo - a água escorre pela cabeça e ombros nus , enquanto ele aperta as mãos juntas como se estivesse em prece.




“Levanta todo mundo!”

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Ok, o grito de levanta não é nenhuma missa ou culto religioso – mas quero falar sobre algo que muitos já devem ter visto ou ouvido falar: o aparelho “Up Rose”.

Mas antes de entrar preciso falar sobre algo mais amplo que a invenção do mesmo que é nossa a fragilidade.

Ao assistir as matérias sobre o tal aparelho para fazer os cadeirantes e pessoas com outras deficiências de locomoção, ficarem de pé, compreendi não só detalhes sobre a engenhoca, mas também o quanto somos frágeis. Sim, todos!

Fragilidade como dom – é fato que é através dela que tomamos consciência da nossa rápida passagem por aqui, da nossa finitude. E essa consciência pode ser impirtante para encarar e lidar cm limitações.

Mas vamos ao tema: quero apresentar a aqueles que ainda não conhecem, o aparelho de locomoção criado pela Rosana que, em 1991 viu sua mãe se tornar cadeirante devido a um acidente automobilístico.

A partir daí, foi incansável em dua sua luta e dedicação para redução de acidentes e alternativas para minimizar o sofrimento da mãe.

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Rosana sonhava em ver a sua mãe de pé exercendo novamente e de forma simples as tarefas diárias. E se dedicou exaustivamente a isso durante 19 anos .

Pouco antes de 2010 Rosana, filha da dona Rose, colocou em prática sua pesquisa e toda a experiência desses anos – e eis que o protótipo de um aparelho locomotor multifuncional, que permitia a mãe ficar de pé e se locomover – funcionou!!

É tão bom ver um sonho se concretizar, não é? Para homenagear a mãe, cujo nome é Rosa, ela batizou o aparelho locomotor multifuncional de “Up Rose”, que significa “de pé Rosa”

Logo ela abriu uma empresa para fabricar e comercializar o Up Rose – com o objetivo de disponibilizá-lo no mercado para o maior número possível de paraplégicos e tetraplégicos.

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Solidariedade e compaixão – talvez sejam as palavras para se definir esse amor da filha pela mãe. E esse exemplo de Rosana me faz entender o quanto somos Fortes, na medida em que podemos ver que a dor do outro não é menor que a nossa.

Aí quando nos identificamos com o sofrimento do próximo e tentamos minimizá-lo, atoora a vontade de fazer o bem.

Tenho esperança na força renovadora do bem, tenho esperanças no amor, tenho esperanças no ser humano e na sua incrível capacidade de atos grandiosos e sentimentos nobres. Parabéns, Rosana e dona Rose. E que venham muitos “Up!!”

Deixo aqui o contato caso queiram saber bem mais: (27) 9 9622 0844 ou up.espiritosanto@gmail.com

www.uprose.com.br

Até a próxima!




Top 10 perguntas mais frequentes – e tontas – para pessoas com deficiência

Troféu dourado, TOP escrito sobre uma base também dourada, e ao lado o número 10, dourado, junto a base.

Ok, não se preocupem: faz parte e não ofende. Afinal a “curiosidade não matou o gato”. E vou confessar pra vocês: eu admiro muito as pessoas curiosas. Sérioo!!!

Já li sobre as tais perguntas por aí, isso significa que não sou a única a passar por situações hilárias e nem tão pouco a abortar esse tema. Inclusive, morri de rir quando mais uma vez fui me diverti no blog do colega Jairo Marques do jornal  Folha de São Paulo.

Não tenho um dia em vida que não escute de alguém indagações que de tanto se repetir, viram motivo de graça, e nunca me canso de responder ou explicar. É minha missão. Mas não se espante com as respostas. Perguntou? Agora, agüente!

1 – Você nasceu “assim”’?

Que eu me lembre, não. Minha mãe nunca me disse que nasci com uma mini cadeira colada ao meu bumbum.  Gente, que diferença faz se nasci ou não? Afinal, o nascimento não causa deficiências, e sim, doenças, síndromes, má-formação, problemas no parto etc…

2 – Você não anda nem um pouquinho?

Não. Uso a cadeira para descansar as pernas.

Esta é uma pergunta clássica que encaro sempre quando vou embarcar, principalmente, nos aeroportos deste Brasilll!

3 – A cadeira vai?

Por quê? Vai me levar no colo?

Esta também é clássica de taxistas. Então, me adianto e já saio falando antes deles perguntarem. Olha, tenho um caso de amor com minha cadeira e por isso não me separo dela. Sim, ela vai!

4- Como você toma banho?

Pessoal, só aceito esta pergunta quando ela vem das crianças, tá?

Do contrário, considero muito indiscreta. Mas como nunca perco a piada e sou sincera, vou logo dizendo:  tiro a roupa, verifico se chuveiro tá no quente, se tem toalha, ligo o chuveiro e tal…

5 – Por que você não usa cadeira elétrica?

Por que não sou criminosa e não gostaria de morrer eletrocutada. Além disso, já viu o preço da conta de luz?

Mas de todo modo as cadeiras motorizadas são excelentes para que tenha uma deficiência severa e sem forças nos braços para propulsionar uma cadeira manual. Como paraplégica que sou o ideal mesmo são as cadeiras manuais, pois além de mais práticas e de fácil manuseio, nos fazem exercitar o coração. Sim, temos coração!!

6 – Sua bunda deve doer de tanto ficar sentada, né?

Olha, como personal vejo bundas expostas muuuito mais a dor do que as dos cadeirantes. Como por exemplo, as de pessoas que fazem muitos agachamentos…

Estar cadeirante não significa está imóvel. A gente se mexe pra cá e pra lá e também, aqueles que podem, usam almofadas especiais que ajudam e muito na nossa sentada diária.

7 – Como você dorme?

Engraçado que as crianças me fazem muito essa pergunta. Para elas sempre enfeito contando uma história bem interessante e daí que acabam por entender que durmo como elas, deitada.

Mas pensando bem, durmo sentada quando um filme é chato ou quando estou viajando em classes econômicas. Às vezes durmo sentada também esperando uma consulta que demora demais ou quando vou a uma loja para resolver problemas com o celular.

8 – Você transa?  E como é?

Sim, e quando se ama e é correspondido fica ainda melhor. Costumo transar sem roupa, mas às vezes vai de roupa mesmo. O mais importante é ter alguém com quem possa compartilhar do mesmo desejo. As maneiras como cada um faz é bem particular. E as adaptações, adequações, cada qual escolhe o que e como fica melhor. Hummm!!

9 – Como você dança?

Escolho uma música e me mexo no ritmo dela. Pode ser acompanhada ou sozinha. Em casa ou na balada. Ah, costumo dançar enquanto dirijo

10 – Você dirige?

Sim. Por quê? Quer uma carona?

Bom, queridos leitores, perguntar não é nenhum problema, como já disse. Porém, elabora melhor o pensamento ou fazer o exercício de se colocar no lugar do outro – isso em qualquer situação – pode evitar um coise  com efeito, nocaute.

E como em todas as situações de possíveis saias justas, tento manter a paciência, o bom humor e entender a minha missão naquele momento. Jamais perco a oportunidade de informar e acabar com o preconceito que pode estar ali entre nós.  Aliás, viver sem ter senso de humor, além de difícil é muito pesado…

Até as próximas e com as tops de outras deficiências. Prometo.

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