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Com fazer para ficar bem na pose

Num palco três mulheres se destacam a frente, usam biquine, cabelos longos e soltos, fazem pose , sendo a mão direita junto ao baixa cintura e o braço esquerdo, solto ao lado do corpo. Atrás outras 4 garotas com as mesmas características também pousam.

No Brasil, sou a primeira a exercer essa profissão, que tem como principal objetivo cuidar da performance de atletas fitness – bikini e wellness – modalidades do fisiculturismo.

Nas duas categorias, estas atletas precisam apresentar curvas suaves e firmes, sem exibir taxa de gordura e hipertrofia (musculatura) exageradas. Além de saber desfilar, andar – de salto alto! – e, principalmente, executar lindas e delicadas poses.

Num palco três mulheres se destacam a frente, usam biquine, cabelos longos e soltos, fazem pose , sendo a mão direita junto ao baixa cintura e o braço esquerdo, solto ao lado do corpo. Atrás outras 4 garotas com as mesmas características também pousam.

O trabalho requer uma visão ampliada, para que seja possível realizar um planejamento individual que inclui, por exemplo, a análise do andar, da flexibilidade, do carisma e da postura de cada uma das moças.

Modelos e candidatas a misses procuram no trabalho de posing coach as condições necessárias para uma performance segura, com mais domínio da técnica e presença em cena.

Tão importante quanto os treinos e a dieta, é ensinar a equilibrar-se com elegância no salto alto e apresentar as poses de forma a valorizar melhor as cadeias musculares. Tudo isso enquanto, realizam um desfile técnico, com estilo próprio, – o que acaba tornando este trabalho, além de desafiador, imprescindível.

Uma das minhas grandes inspirações nesta área – e com quem vim a descobrir ter muito em comum – chama-se Maria Augusta Nilsen, a maior preparadora de misses no Brasil, que ficou famosa nos anos 1960 não apenas por sua elegância, mas, também, pela inseparável bengala que a acompanhava.

Na falta de uma bengala, carrego comigo a minha fiel cadeira de rodas.

Imagem em preto e branco, de uma sombra de corpo de mulher, ginástica, esguia, num campo ao final da tarde. Na postura ela está com mão esquerda junto ao baixo abdomen e o braço direito solto ao lado do tronco.

 

 




Janeiro tem colônia! Pra quem?

 

Quatro crianças entre 4 anos e 10 anos, estão vestindo roupas esportivas ao lado de uma piscina num resort de ferias

E quem tem um filho com alguma deficiência ? – assumi a missão de visitar locais que organizam colônias de férias. E, de tudo o que analisei, como o local, ficha de inscrição, preços, acesso, quantidade de recreadores, atividades oferecidas e etc.. a que mais me surpreendeu foi não ver em nenhuma delas, a participação de crianças ou adolescentes com deficiência.

E o pior: muitas vezes não entendia o objetivo das atividades propostas! Era cada jogo sem pé nem cabeça, que fiquei até constrangida em estar ali observando… É gritante a falta de profissionais capazes de mediar tais atividades.

Por que as crianças com deficiência não estão envolvidas? – entendo que brincar, jogar, passear e divertir são necessidades básicas primordiais para o desenvolvimento pessoal e social do ser humano e por essa razão, devem ser asseguradas a todos. To-dos!

Lazer é direito – para entender melhor: pensar o lazer enquanto um direito social, presente na Constituição Brasileira de 1988, é pensar quais opções de lazer que a sociedade tem a oportunidade de usufruir, tanto no âmbito da iniciativa privada, quanto através das políticas públicas de lazer propostas pelos Governos.

Playground a beira mar, onde várias crianças pulam sobre colchões coloridos, em cores vermelho e outros azuis.

Nota zero – todas as colônias que visitei em Vitória no Espírito Santo , onde moro, não tinham acessibilidade e as atividades aconteciam em lugares com escadas e outras barreiras.

Uma criança com deficiência visual, por exemplo, com certeza seria impedida de usufruir das sessões de filmes, que em todas, faziam parte do pacote.

Respeitar a lei – uma vez que as colônias de férias se enquadram, para a Receita Federal, na mesma categoria de hotéis e pousadas e também precisam de alvarás de funcionamento, licença dos bombeiros para funcionar – é de se supor que deveriam ter o mesmo tipo de acesso e fiscalização que esses estabelecimentos – ou não?!

Já conhecemos esse filme de terror- da liberação de alvarás sem respeitar os critérios de acessibilidade né?

Passo a passo – embora estejamos engatinhando no que se refere a Inclusão de crianças com deficiência em colônias de férias é preciso pensar nisso.

Meu objetivo é acender o debate e pensar sobre alguns fatos que podem nos ensinar como agir e melhorar diante de situações semelhantes a esta que acabo de relatar.

Invertendo os papéis -imagine seu filho de perna engessada durante todas as férias Dificílimo não? Agora imagine se, a colônia que ele está acostumado a ir estivesse preparada para essa e outras limitações de crianças, sendo possível acolher todo tipo de pequenos e jovens com variados graus de limitações. Um sossego não?

Fica a dica: ao visitar uma colônia de férias faça a sua parte: mesmo que não tenha ninguém com deficiência na família, pergunte, questione, sugira…

Só assim, sairemos mais rápido da zona puramente mercadológica e de conforto que nos distancia das inúmeras possibilidades, para outra: a do direito, que nos aproxima e nos auxilia na compreensão das diferenças.

Que possamos dar toda a atenção para novas experiências, para as potencialidades humanas, para as necessidades tanto individuais quanto coletivas e principalmente, aos pequenos gestos.

 




Como fazer um site acessível?

site acessivel_claudiamatarazzo

O que é acessibilidade à Web? – significa que pessoas com deficiência – visual, auditiva, física, de fala, cognitivas e neurológicas – sejam capazes de usar a internet.

Mais concretamente, significa uma Web projetada de modo que estas pessoas possam perceber entender, navegar e interagir de uma maneira efetiva, bem como, criar e contribuir com conteúdos para a Web.

Uma barreira atitudinal – muitos Webdesigners acham que a acessibilidade limita a criatividade e torna as páginas pouco atraentes. Programadores acreditam que vai atrasar e atrapalhar seu projeto e – pior que o custo da acessibilidade é alto e que o retorno não compensa.

Mentira! Esses paradigmas devem ser derrubados através da informação e capacitação dos profissionais da área sobre o que é acessibilidade e o que devem fazer para tornar um site acessível.

45 milhões de pessoas no Brasil – têm barreiras de acessibilidade que dificultam ou mesmo tornam impossível o acesso às informações em sites e blogs. Mas se os Web sites e softwares fossem projetados de forma acessível, as pessoas com deficiência poderiam usufruir de forma efetiva.

O Governo poderia dar o exemplo, não é? Pois, cada vez mais as pessoas são convidadas a exercer a cidadania consultando sites do governo que permitem, não só o conhecimento de leis e seus direitos, como também a obtenção de documentos.

Mas os sites governamentais apresentam tantas barreiras de conteúdo e de acessibilidade que fica difícil, tanto para as pessoas de baixa escolaridade, quanto para as pessoas com deficiência, conseguirem navegar ou se situar neles.

Desafio profissional – assim como engenheiros e arquitetos sabem que podem fazem a diferença construindo calçadas cidadãs e edifícios com rampas de acesso, os técnicos envolvidos na elaboração de páginas Web podem fazer a diferença se construírem sites acessíveis.

Claro que é preciso o conhecimento das recomendações internacionais de acessibilidade na Web. Elas já existem!

Acesso à informação: um direito de todo cidadão – Um site acessível, é aquele que pode ser usado e acessado por pessoas com deficiência tão efetivamente quanto por pessoas sem deficiência.

Alô, webdesingners! Que tal dar a sua contribuição para uma sociedade mais inclusiva? ”Navegar é preciso”…




Chegar a academia: a verdadeira ginástica!

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Sim pois, cheias de pessoas com corpos sarados e disposição, as academias frequentemente são um ambiente hostil para quem tem algum tipo de deficiência.

Se por um lado são uma ótima opção para quem procura os exercícios com o objetivo de aumentar seu bem estar por que razão pessoas com deficiência não podem buscar essa prática com o mesmo objetivo?

Alguns números – só em 2014 foram abertas mais de 7 mil academias no país, que possui hoje nada menos que 30 mil estabelecimentos. UAU!

Conta que não fecha – se por um lado espaços e serviços nas academias acompanharam a evolução do mercado, por outro, não acompanharam a evolução e necessidades de todas as pessoas.

Isso quer dizer que, 45 milhões de pessoas com deficiência estão – ainda – fora desses espaços, pois são raros os lugares que possibilitam o acesso à prática de atividades físicas, lazer, etc.

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Seria lindo se não fosse trágico – Eu sou formada há 12 anos em Educação Física e hoje, mais que nunca atuo na área. Logo, percorro, não só para treinar ou praticar algumas modalidades, mas também para atender como personal.

Só na semana passada, tentei visitar três academias, e para a minha surpresa, dessas, todas tinham o acesso à porta de entrada apenas através de escadas. Primitivo não? Mas é assim, acredite.

Para frequentar é preciso entrar – o acesso físico a academia é um dos principais requisitos para a participação das pessoas com deficiência, pois sem acessibilidade, as barreiras arquitetônicas serão sempre um empecilho para a autonomia e segurança dos usuários. Fica a dica!

Um exemplo a ser seguido – trabalho hoje na maior rede de academias do Brasil e sou a primeira de toda rede a ser contratada como cadeirante e professora de musculação. A infraestrutura me acolheu e eu aceitei o desafio de atuar numa área diferente, e também de ajudar na construção de um caminho mais acessível e com mudanças de atitudes. O percurso não é fácil, mas já estou na trilha!

Atenção gestores! Drucker, considerado o pai da administração moderna, disse: “o planejamento não diz respeito às decisões futuras, mas às implicações futuras de decisões presentes” Pensem nisso .

A concorrência está cada vez mais acirrada. O número de academias só aumenta – e junto com elas o plano de negócios e de marketing! Portanto, acordem gestores: quem subestimar as potencialidades humanas, principalmente das pessoas com deficiência, vai ser nocauteado. É hora de se reinventar, renascer! Bora malhar!




“Iaiá, você vai à Penha?

Igreja e Convento de Nossa Senhora da Penha, em Vila Velha, Espirito Santo. Na imagem noturna, aparece toda a construção, na cor branca no topo de um monte sobre as pedras e apenas uma escada de muitos degraus.

No alto de uma montanha de pedra, há mais de 400 anos, o Convento de Nossa Senhora da Penha, se mistura a história do povo capixaba e resiste aos tempos e ventos de Vitória.

Todos os anos na “Festa da Penha”, em um momento importante de fé e devoção, mais de 1milhão de pessoas sobem o penhasco para fazer seus pedidos e agradecer.

E em 2006 as pessoas com deficiência passaram a compor esse grupo de romeiros que além da confiança na virgem, colocam em prática sentimentos e demandas de cidadania.

Novos tempos velhas práticas – foi o Frei Pedro Palácios em 1558 quem deu inicio a essa grande festa, na época sem ter a acessibilidade.

Hoje, em pleno século XXI ainda não é possível uma pessoa com deficiência acessar e conhecer o imponente patrimônio histórico do Espírito Santo.

Rapel e escalada – incrível mas, no momento, essas são as únicas alternativas, para chegar lá, para quem não caminha.

Ora, eliminar as barreiras físicas e sociais dos espaços, edificações e serviços destinados à fruição do patrimônio cultural é medida indispensável para que as pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida possam ser incluídas no processo de conhecimento de nossa cultura e história.

Falta vontade política, força e informação – hoje, toda edificação tombada precisa de adequações para o uso – e isso não inclui apenas a acessibilidade, mas também banheiros, piso adequado e sinalização. Portanto, a questão não é ‘se’ fazer e sim ‘como’ fazer”.

Tombado não quero dizer imexível – um dos motivos pelos quais o acesso a bens culturais é dificultado para pessoas com deficiência, é a falta de informação. Há uma falsa noção de que o tombamento impede qualquer tipo de transformação, que o lugar perderá sua identidade.

Não é bem assim – há um mínimo de preservação e um mínimo de acessibilidade que devem ser respeitados em qualquer edificação tombada. Para que se preserve a identidade do bem cultural, deve prevalecer a distinguibilidade, isto é, saber discernir o que é original daquilo que foi transformado. Quanto à acessibilidade, é simples de entender e de executar – desde que haja empenho: todos devem conseguir entrar, se orientar, circular e usar os serviços com facilidade e autonomia.

Nadamos, nadamos, e morremos na “Prainha” – Há pelo menos 4 anos atrás estive em um debate importante junto com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN sobre o projeto de acessibilidade do Convento. Foi animador e esperançoso. Mas, acho que o movimento e a participação não foram fortes o suficiente para fazer acontecer.

Está na Lei e é para fortes – os desafios são gigantescos, mas, de maneira alguma, arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo. Que a Romaria das Pessoas com Deficiência reacenda – sempre – o debate sobre o acesso pleno ao Convento da Penha e, quem sabe nas próximas festas não somos convidados a entrar, cantar, renovar a nossa fé, e contemplar lá do alto a tão esplendorosa vista? Assim seja!

Igreja e Convento de Nossa Senhora da Penha, em Vila Velha, Espirito Santo. Na imagem , aparece toda a construção, na cor branca no topo de um monte sobre as pedras e apenas uma escada de muitos degraus.