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Cão-Guia: olhos que latem

Mac, cão-guia, da raça labrador, cor preta, em foto lateral , onde temos a guia de trabalho e corrente junto ao pescoço com sua identificação.

Pouca gente sabe que o cão-guia é também um importante agente socializador de inclusão social das pessoas com deficiência visual

Por isso hoje decidi trazer um pouquinho do Sr Everaldo, o primeiro usuário de cão-guia do Espírito Santo, dono do “Eros”, seu companheiro de vida.

Com os dois percebi bem de perto a importância de algumas regras de etiqueta para uma boa convivência no mundo cão.

Ainda lembro da felicidade do Sr Everaldo quando falava do privilegio de ter o auxílio e companhia desse animal. E percebia em seus olhos azuis dele a liberdade refletida pela confiança no animal.

Depois de de um longo período de educação e treinamento específicos, o cão estará pronto para o contato com o seu futuro dono em uma condição personalizada, respeitando as características da pessoa com deficiência visual e do seu ambiente. Ou seja: a cada usuário é atribuído o cão mais adequado.

Sem moleza – o trabalho é árduo e requer habilidade e muita dedicação. Os cães devem evitar distrações, tais como: ruídos, cheiros interessantes ou incomuns, animais e pessoas, para que se concentrem apenas na tarefa de guiar. Por isso aí vão algumas dicas para não atrapalhar o seu trabalho e nem colocar em risco a vida do seu usuário:

O Cão é a visão do Cego – por isso evite tocar, falar, distrair, e muito menos alimentar esses cães. Eles são alimentados seguindo programação e dieta específicas para que tenham condições ótimas de saúde. Além disso, são treinados a resistir ofertas de alimentos para que possam freqüentar restaurantes sem implorar por comida.

Em tempo : se entrar em um restaurante e se deparar com um cego com seu cão- guia, não reclame.

Ande sempre a direita – para que você não se torne uma atração e acabe por não distrair ou confundir o cachorro ande, de preferência, do lado direito e com certa distância da pessoa deficiência visual e seu cão.

Ah, não tente agarrar ou dirigir a pessoa quando esta estiver com o cão guia.

Não dê comandos – isso deve ser feito somente pelo usuário. De tempos em tempos, um cão-guia comete possíveis erros e é corrigido verbal e fisicamente através de sua correia, para que mantenha o foco e seu treinamento.

Eu morro de peninha deles, mas são métodos apropriados de correção, por isso não estranhe.

Cães não lêem placas de trânsito– mas são responsáveis em atravessar a avenida com o seu usuário em segurança. Então, evite chamar, buzinar ou obstruir o trajeto para não causar acidentes a dupla. V

Em tempo: você pode oferecer ajuda informando quando o sinal estiver vermelho

Vamos correr atrás? – com o Plano Viver sem Limite do Governo Federal alguns centros de treinamento estão sendo implantados no Brasil. E, para melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência visual, respeitando suas necessidades específicas, o Município de Alegre (ES) foi contemplado com um desses centros. Iniciativas como essas precisam ser multiplicadas.

De modo que vale a pena sim sugerir, informar, estimular e, se for o caso tentar implantar esse tipo de iniciativa na sua região também – porque não?

Em tempo: cães soltos nas ruas são indesejáveis em qualquer situação pelo desconhecido que representam. Mas, são um duplo perigo aos cães-guia e seus usuários.

Um break para o Totó – quando estiverem sem coleira – e só então – os cães guia podem ser tratados como animais de estimação. Ai , vale carinho, comida e paparico: afinal, a vida não é só trabalho.




Posso ajudar?

Um homem vestido de terno escuro segura na palma de sua mão um sapato de salto alto todo bordado de cristais - lembrando o sapato da Cinderella nos contos de fadas.

O cara era enorme e rodopiava em fúria. E me pegava com tanta força – a cadeira de rodas é uma extensão do nosso corpo – que,se não estou em dia com meus exercícios estaria fazendo coreografia de chão.

Dançar foi a única coisa que não se conseguiu. Antes que tudo piorasse e umas doses a mais fizessem efeito, dei um jeito de escapar daquele “pas de deux” desastroso.

Aprendendo com as diferenças – é natural que, por não terem convivido com pessoas com deficiência, alguns tenham dificuldade para lidar com isso na prática.

Ora, quando nos deparamos com pessoas que – por características ou comportamento – não se enquadram em nosso “padrão de normalidade”, ocorre uma ruptura na rotina da interação social. E ficamos perdidos, sem saber como agir.

Somos diferentes em nossas deficiências – é isso aí. Fico alarmada quando vejo cartilhas espalhadas, ditando regras de como lidar com as pessoas com deficiência. Não que sejam de todas ruins, mas, são preocupantes, para dizer o mínimo. Nascemos diferentes e isso é fato, logo, um cadeirante não é igual ao outro, assim como o cego, o surdo e outros com outras limitações, também não são.

Sinalize mas não insista – repare como ficamos à vontade com aqueles funcionários nos supermercados com a camisa escrito “posso ajudar”? É isso! Eles estão ali, prontos para nos auxiliar -mas sem nos invadir.

As pessoas com deficiência têm direito de tomar suas próprias decisões.

Se encontrar alguém com deficiência que pareça estar em dificuldades, identifique-se e pergunte se realmente quer sua ajuda. Ah, e, se convidar pra dançar, aguarde a resposta: lembre que a dança da vida é alma – e não força.

Preparado para um “não”? É melhor não ajudar antes de perguntar e nunca insista ou subestime sua capacidade. Não se ofenda se uma pessoa com deficiência dispensar sua empurradinha, ombro amigo, ou até mesmo um convite pra dançar. Muitas vezes pode ser mais seguro e elegante.

Convivência: melhor que cartilha – a interação de pessoas com diferentes singularidades, inclusive a deficiência, facilita a quebra de barreiras, proporcionando oportunidade de ajuda, de trocas significativas, de constatações positivas diante do amigo diferente. Além da construção de vínculos que se expressam em valores importantes para todo o cidadão – como o respeito e a solidariedade.

E o lado bom da VIDA é que ela nos surpreende sempre: não é que aquele moço que me tirou pra dançar virou um amigo “expert” em diversidade humana!? A dança agradeceu…

 

 

 

 

 

 

 

 

 




Irmãos entre eles, filhos entre vocês

a foto mostra dosi meninos, de 7 e 5 anos abraçados olhando o mar. Eles estão com os pés na areia. a imagem transmite muito carinho entre os doi

Dia desses, ao parar no estacionamento de um shopping que freqüento, depois de alguns momentos de papo, o amigo Patrick – que me auxilia sempre que preciso parar por lá – me expõe que tem uma irmã com deficiência.

Na conversa percebi que a família entende que o diálogo é a melhor maneira de conviver de forma saudável entre os irmãos. Mas ele deixou escapar uma frase que resume o que acontece com muitas famílias como a dele:

a atenção é sempre maior para a minha irmã. Ela é a do meio e todos vivemos em função dela”

Por isso, é fundametal refletir e avaliar com cuidado a posição que os irmãos de uma pessoa com deficiência assumem ao tomar conhecimento da situação.

A forma como eles encaram o convívio com as limitações e as peculiaridades daquele irmão com deficiência – em geral muito querido, mas nem sempre entendido – pode interferir muitas vezes positivamente, mas, quase sempre, pelas experiências que ouço, negativamente.

Aliviar é preciso – a sobrecarga que os outros irmãos recebem e o senso de responsabilidade é uma situação recorrente nas famílias que tem um filho com deficiência

Quase com como se eles tivessem que se tornar segundos “pais” do irmão com limitações.

Ora, o tratamento desigual dado aos irmãos com e sem deficiência pode potencializar a ansiedade e o sentimento de injustiça. Esses sentimentos dificultam o fortalecimento de vínculos sociais – além de fazer com que a criança com deficiência fique muito centrada nela mesma.

Em minha experiência como Educadora percebi – em alguns casos – que os irmãos sem deficiência lidam com uma mistura de sentimentos, que variam entre ciúmes, hostilidade e pena. O que acaba causando dificuldades até mesmo na relação fraterna.

Para que entendam essa realidade entre as famílias, deixo um pedacinho do livro “Irmãos Especiais” dos autores são Powell e Ogle.

Tudo o que Mindy fazia era aceito com grande entusiasmo por nossos pais. Em contraste, a reação de mamãe e papai às minhas realizações não passava de um mero tapinha nas costas. Esperavam que eu me portasse bem em qualquer circunstância. Eu queria que meus pais ficassem entusiasmados com o que eu fazia também… Queria que me dessem atenção” (p.33).

Por outro lado, quando esclarecidas sobre as diferenças, esse mundo dos irmãos pode ser repleto de afeição, cumplicidade e companheirismo.

E esse diálogo é de responsabilidade dos pais, podendo ser auxiliado por profissionais. É importante falar com clareza sobre as atenções e cuidados com o irmão que tem deficiência, bem como, das suas potencialidades.

Para finalizar, é necessário e urgente que instituições, escolas e outros locais de atendimentos à pessoa com deficiência ampliem essa atenção – que hoje fica bem centrada nos pais – para os irmãos, os avós, tios, amigos, padrinhos.

Vamos escutar o que os irmãos pensam e sentem, quais as suas preocupações, necessidades. E finalmente, o que enfrentam e como estão se desenvolvendo pessoalmente. Pode ser um caminho mais longo mas, sem dúvida nenhuma, mais seguro e gratificante não é mesmo?

Foto em preto e branco, com jeito de antiga. Mostra um menino  de 6 anos em pé, segurando uma placa com os dizeres: I will protect him because I love him. Sentado no chão, outro menino, um pouco mais velho.

 

 

 

 




#ForçaLais!

Lais de Souza, atleta olímpica faz um exercício na barra, usando um maiô vermelho com mangas longas pretas. Ela está apoiando as duas mãos na barra e as pernas estão abertas em posição de equilíbrio.

Minha paixão pela ginástica está tão viva hoje, quanto há décadas, quando nasceu. Não é fácil contar nesse espaço tudo que vivi como professora e técnica de ginástica artística. Assim, coerente com essa paixão, dedico esse texto a querida Laís de Souza.

Conheci a Laís no Centro de Treinamento em Curitiba, quando treinava minha equipe de atletas de alto rendimento. Víamo-nos todos os dias: sempre que meus olhos piscavam, lá estava ela, no ponto mais alto do ginásio em seu salto sobre a mesa.

É a sua característica mais forte: voar!

O que mais me chamou atenção naquela menina linda, forte e saltitante, foi seu choro na hora da flexibilidade. O técnico da seleção era Ucraniano, não poupava ninguém do seu “empurrãozinho” na hora de alongar. Laís então chorava nessas horas – mas depois, saia do treino sorridente como quem diz: missão cumprida! Capacidade de suportar dor é uma característica marcante dos grandes atletas.

Laís começou na ginástica aos quatro anos de idade e teve conquistas importantes com duas participações em jogos olímpicos: Atenas e Pequim!

Em 2013 ela começou a treinar esqui aéreo – onde conseguiu vaga para disputar os Jogos Olímpicos de Inverno. Esquiava em Salt Lake City e estava se preparando para as Olimpíadas de inverno em Sochi – Rússia.

Lais de Souza, atleta brasileira, em imagem do rosto, está de sorrindo, com uma proteção na cabeça e um óculos para neve, ao fundo uma outra esquiadora também sorri.

E ela esquiava apenas, quando se chocou com uma árvore e teve uma lesão na terceira vértebra (C3) da coluna cervical.

Há acontecimentos que nos obrigam a dar um mergulho profundo em nossa existência, às vezes nada faz sentido. É o momento da vida em que a alma é transpassada por uma dor pungente. E nesse momento experimentamos a nossa capacidade em suas muitas dimensões.

Como seguir em frente – somos pessoas realizadas com a ginástica, amamos o movimento, a atividade física, o desafio da gravidade.

Comigo, o ballet a ginástica e pessoas especiais, foram decisivos em minha reabilitação. As resistências, pelas quais passei foram tão superficiais que hoje nem me lembro delas. Claro, eu as vivi, mas não foram paralisantes pois segui em frente!

As possibilidades de promover as pessoas por meio de movimentos tão complexos quanto desafiadores vão transformar e motivar você nessa sua fase também, Laís. Ninguém faz um duplo mortal sem estar preparado!

É a hora da releitura. Seu repertório motor é riquíssimo! Lembre-se que o fundamental agora é a prática: fazer e viver! E como você bem disse: “momentos de fraqueza, eu os encaro! E aí fico mais forte”.

E como na vida há situações que não combinam com explicações, nesse momento, para afastar os pensamentos negativos, façamos um duplo giro cravado!

Obrigada pelo que fez e faz pela ginástica. Seja bem vinda de volta. Encare!

Esse verso, de Augusto Branco é pra você!

Vida…

Bom mesmo é ir à luta com determinação
Abraçar a vida com paixão,
Perder com classe
E vencer com ousadia,
Porque o mundo pertence a quem se atreve
E a vida é muito para ser insignificante.

Lais de Souza, atleta brasileira, em sua cadeira de rodas, participa do programa 'Encontro com Fátima Bernardes". Ela está no centro do estúdio e ao fundo móveis da sala de estar do programa.

 

 

mariana_reis
A Bailarina Mariana Reis, tornou-se cadeirante aos vinte anos. Tornou-se Administradora de Empresas e Educadora Física. É Pós Graduada em Gestão Estratégica com Pessoas e em Prescrição do Exercício Físico para Saúde pela Universidade Federal do Espírito Santo. É também atriz, colunista do jornal A Tribuna de Vitória, professora universitária, técnica e árbitra de ginástica artística. Atua como consultora em acessibilidade e gestora na construção e efetivação das políticas públicas para a pessoa com deficiência em Vitória. Acredita na sedução diária de superar limites e ir além do que nos impede – não as pernas, os olhos, os ouvidos – mas o cotidiano. Afinal, temos todos medo de enfrentar o mundo e suas barreiras. E todos temos obstáculos. Vamos encarar?



De adrenalina a gente entende

turismo-para-todos_claudiamatarazzo

As possibilidades são muitas e sempre com profissionais capacitados para atender os mais variados tipos de deficiência. Veja algumas das modalidades espalhadas por aí – e quem sabe, bem mais perto de você do que imagina:

Mountain Bike (pedalar através de trilhas no meio das florestas e montanhas), Rapel, (descida de paredões, abismos ou cachoeiras usando cordas)

Rafting (descer correntezas com botes infláveis)

Trekking-man_claudiamatarazzoTrekking (caminhadas por trilhas que contornam montanhas, florestas e riachos)

Caving (exploração de cavernas)

Além de Kart, Parapente, etc. E todas podem ser adaptados para as pessoas com deficiência.

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O primeiro salto a gente nunca esquece – foi de parapente, em Alfredo Chaves, no interior do ES, consagrado por ter uma das melhores rampas para salto do Brasil.

Quando aterrissei, foi no meio do pasto verdinho e com algumas vacas – que pareciam super acostumadas com aqueles bichos esquisitos (no caso, nós) querendo imitar pássaros. E tive uma das maiores sensações de liberdade da minha vida.

Porque vale a pena – o esporte na natureza nos leva a contemplar a fauna, a flora, além de buscar uma aproximação com o meio ambiente .A convivência na natureza através das práticas esportivas – contribui para que as pessoas com deficiência sintam-se realizadas – além de desenvolver outras aptidões, estímulos, sensações e emoções.

Superação e diversão – toda vez que encaramos o desconhecido, ampliamos nossos limites. Foi exatamente o que percebi ao vivenciar, não só o salto de parapente como também com a escalada e rapel.

No Brasil, já existem muito atletas com deficiência que praticam e competem em modalidades radicais, que tomam a cada dia proporções maiores, obrigando os profissionais e principalmente, os locais onde se pratica, a se aprimorem e se adequar para receber a todos.

Em tempo: nunca encare um esporte radical sem a presença de um orientador experiente para lhe oferecer as devidas instruções, equipamentos de segurança e muito mais para você. Depois, é sair em busca de sensações novas, algo que lhe traga prazer, plenitude da alma, diversão e contato com a natureza. E eu já estou me preparando para o próximo salto! Conto depois!

 

mariana_reis-claudia_matarazzoA Bailarina Mariana Reis, tornou-se cadeirante aos vinte anos. Tornou-se Administradora de Empresas e Educadora Física. É Pós Graduada em Gestão Estratégica com Pessoas e em Prescrição do Exercício Físico para Saúde pela Universidade Federal do Espírito Santo. É também atriz, colunista do jornal A Tribuna de Vitória, professora universitária, técnica e árbitra de ginástica artística. Atua como consultora em acessibilidade e gestora na construção e efetivação das políticas públicas para a pessoa com deficiência em Vitória. Acredita na sedução diária de superar limites e ir além do que nos impede – não as pernas, os olhos, os ouvidos – mas o cotidiano. Afinal, temos todos medo de enfrentar o mundo e suas barreiras. E todos temos obstáculos. Vamos encarar?