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A quem agradeço

Mas o balanço é essencial: como uma limpeza do ano velho para dar espaço ao novo ano para que seja novo de fato. Pedidos extrapolam e, na última hora engarrafam os caminhos do paraíso.

Ok, sei que você já agradeceu as bençãos alcançadas – até mesmo as que não pedimos, mas que a vida nos presenteou como saúde, amigos, um teto, etc. Por essa razão, esse ano, fiz antecipadamente um exercício diferente, que compartilho:

Relembre quem te inspirou – aqueles que marcaram sua vida, de quem você lembra com saudades. De cuja presença, mesmo dos que ainda são vivos, você jamais se cansa e sempre acha que poderia se encontrar mais vezes.

Faça uma lista por ordem cronológica e coloque os motivos pelos quais essa pessoa é /foi tão importante.

Vovó Wahibe – pense em uma mulher formidável e feminista sem nem mesmo saber que era. Intrépida, ficava meses com os 4 netos na fazenda no interior de São Paulo onde arrebanhava os filhos dos colonos, nossos amigos, e partia dirigindo uma charrete onde cabiam tecnicamente 4 pessoas com pelo menos 9 – empoleirados sobre as rodas, na traseira e onde coubesse.

Esses passeios duravam horas, e ela pilhava os cavalos a toda velocidade fazendo curvas em duas rodas. Ensinou-me (desde antes de entrar na escola) o senso de aventura e a interação com as pessoas.

Dona Latife – professora do primário, que, em plena ditadora militar, dava aulas de “Moral e Cívica” desafiando os padrões/chavões da época. Cada aula era um flash com frases que nos faziam pensar e com ela aprendi a questionar o que parecia certo.

Barbara Gancia – amiga de toda vida, hoje jornalista polêmica, sempre foi genial e muito, sincera. Juntas, gargalhávamos mergulhadas nas delícias das descobertas e absurdos do aprendizado da infância. Se tivesse que escolher alguém para levar para a famosa ilha deserta, iria com Barbara – sem piscar.

Mr. Mitchell – professor de literatura escocês e gay em uma época em que ninguém saia do armário e que homossexualismo ainda era crime no Reino Unido: mix de delicadeza ao me ensinar tudo sobre as Divas do Cinema – mas era brutal ao me mandar a real quando achava que eu me excedia em meu próprio “Divismo.”

Susie e Maura – juntas desde o segundo grau, permanecemos unidas em nossos laços de sonhos, casamentos, filhos, netos, dores e reclamações em meio a muito riso e crescimento. Nossos encontros são frequentes – mas nunca suficientes. Minha infalível rede de apoio vida fora.

Dorli – amiga da maturidade – essa foi presente do destino. Sabe aquela irmã mais irmã que as outras duas de sangue? (que jamais lerão isso) … É ela. Iluminada, propositiva, com um senso de humor super alinhado para cada momento precioso que compartilhamos.

Recomendo a vocês fazerem uma lista similar – além da oportunidade de agradecer aos que ainda estão conosco, percebemos a beleza dos vínculos que constroem nossa vida – dia após dia, ano após ano. Que venha 2023!!




Como pedir favor com sucesso

Se você é dessas pessoas que prefere morrer a pedir um favor a um amigo, talvez seja o caso de continuar a ler. Já, se você é daqueles que não pensa duas vezes e vive acessando conhecidos e familiares para uma “ajudinha…”, beleza. Masssss… talvez reduzir um pouco os pedidos e melhorar a abordagem melhore muito sua popularidade e sucesso no objetivo final.

Existem vários perfis dos que pedem favores: tem o que implora, o que fala brincando, o folgado, o que já infere que você vai atender, o super formal e o que não pede mesmo quase morrendo de necessidade – entre outros.

Não é pecado – sim. Pedir favor não é pecado: faz parte do relacionamento entre pessoas que se conhecem (mais ou menos, socialmente ou apenas no trabalho) e acredite: se for algo possível, e colocado da maneira certa, ninguém vai se incomodar tanto assim e ajudar pode ser muito gratificante.

Fico sem graça – só você? A maioria das pessoas não ama reconhecer que precisa de um favor – maior ou menor não importa. O que é uma grande bobagem – afinal, a vida é longa e, principalmente você sempre poderá retribuir o que te fizeram. E não, não precisa ser imediatamente. Você pode, no futuro, retribuir quando e como puder.

Abaixo algumas dicas para otimizar esse momento:

Seja educado e direto/a –  ajuda muito e se possível, já faça uma oferta irresistível “preciso ir ao supermercado, você se incomodaria de ficar com a bebê por 1 hora – posso aproveitar e fazer alguma compra que você precise lá”.

Sem aumentar a urgência – não faça parecer algo que vai pesar. Por exemplo, não adianta falar “sei que você está super ocupado/a, mas será que consegue um tempo em sua agenda para me ajudar  a entender esse projeto? É que é urgente”… Muito melhor:  “estou finalizando o projeto x e como você é um craque nisso, queria que você desse uma olhada antes de entregar para saber sua opinião”.

Se foi você quem fez favores – jamais discuta ou comente o que já fez para alguém. Nem para íntimos. É deselegante, para dizer o mínimo e faz parecer que você espera algo em troca.

Não abuse – é muito frequente com amigos de médicos ou de funcionários públicos. Uma coisa é fazer duas perguntas sobre sua saúde – outra, muito diferente é acessar a pessoa como seu médico particular sem jamais pagar uma consulta. Nunca peça de graça algo que a outra pessoa “vende” para sobreviver. Desconto de amigo é uma coisa, cara de pau é outra.

No caso dos funcionários públicos: sei por irritante experiência que as pessoas esperam que você resolva os mais variados problemas apenas por “estar no governo.” De convites para show a audiências, acham que você pode tudo. Aprendi a dizer não de cara – ou encaminhava pelos trâmites de praxe.  Se reclamavam respondia que não podia fazer nada. O que, aliás é verdade.

Ofereça uma saída – meio que assim:  “nem esquente a cabeça se não der, super entendo”

Aceite “Não” – e lembre que não é pessoal, muitas vezes a pessoa simplesmente não tem como te atender.




Gafes da Claudia

Relato aqui duas das minhas preferidas, com o finado e elegante Governador Claudio Lembo, em cuja gestão fui nomeada a convite de José Serra, que o sucedeu.

Rainha Elizabeth II – Visita a Campinas, São Paulo 1968 (foto: mre-gov.br)

O quarto da Rainha – em minha primeira visita ao Palácio, Claudio Lembo, gentilmente, fez questão de mostrar todas as dependências  do Bandeirantes.

Na ala Residencial, estávamos no dormitório em que pernoitou, na década de 60, a Rainha Elizabeth II do Reino Unido, até hoje chamado de “quarto da rainha”. Que poderia ser chamado “quarto do monge”, tal a frugalidade mobiliária.

Quando me falou que sua majestade havia ficado hospedada lá disparei:

“Credo Governador, a Rainha ficou aqui?! Mas parece um Ibis!” falei, referindo- me a cadeia de hotéis famosa pela sua simplicidade funcional.

Perplexo com a comparação ele perguntou espantado e divertido: “É muito grave?”

Acabamos rindo juntos, concordando que hoje, os quartos modernos dos Ibis saem ganhando disparado do quarto da Rainha.

Posse do Governador José Serra 2007 – Assembleia Legislativa (foto: Arquivo do Governo do Estado de São Paulo)

A 1ª Posse- Sorte de Principiante – minha primeira missão importante no Palácio dos Bandeirantes foi organizar a posse do Governador – que ocorre no dia 1 de janeiro.

Para os que organizam é um mico sem fim por um motivo técnico seríssimo: na véspera, há comemorações de grande porte por toda a cidade, estado e país – por conta do Réveillon e todo o tipo de serviço (montagem, som, iluminação, bufê, garçons, recepcionistas – tudo!) fica comprometido.

Durante a Posse tudo é importante: o discurso do Governador eleito, sua aparência, quem ele cumprimenta, encontra e/ou conversa. Quem está presente (e de quem notou-se a ausência) …

Sabendo da delicadeza da missão, pus-me a trabalhar focada no envio de convites, preparação etc. Estávamos no dia 26 de dezembro quando recebo um telefonema do Governador Lembo: “Você esqueceu de mandar um convite”

“Pode dizer Governador, quem faltou?”. Adrenalina a mil, pois diariamente recebíamos nomes de pessoas que não poderiam ser esquecidas. Levei um choque quando ouvi: “Eu. Até hoje não recebi nada”

Gafe! Aflitíssima consultei Dalva há 28 anos à frente do mailing do Cerimonial. Que respondeu calmíssima.

“Não cabe o Governador receber convite, ele está convidando para a festa do Governador eleito Serra, o evento é em sua Casa aqui no Palácio, não teria porquê receber…”

Consciente de que havia sido vítima de uma pegadinha, subi ao gabinete para apresentar o convite ao Governador .

Ele, por sua vez  examinou tudo longamente, elogiou papel, formato e cada detalhe do texto, sempre com um olhar meio travesso. “Gostei” – disse finalmente –  “pode mandar.”

Saí da sala atarantada: mandar para ele? Os demais haviam sido expedidos há semanas… Só no meio da noite – insone – entendi a mensagem. Lembo, a sua maneira elegante, me fez entender com toda sutileza que, com a correria, eu havia ignorado uma regra de cortesia básica: mostrar o convite ao dono da festa para sua aprovação…




Informação não é Conhecimento

Ora, informação – inclusive as falsas, é coisa fácil e barata. Já, o conhecimento requer anos de estudos, questionamentos, pesquisa, vivência e experiências…

Informe-se, mas pesquise – e estude o que achar interessante. O verdadeiro conhecimento não se origina no grupo de “zap”, mas na experiência (ou estudo, ou pesquisa) repetida, compartilhada, questionada e colocada a prova – até ser finalmente comprovada.

 

O conhecimento maravilha-se com os detalhes, os percalços – que podem ser superados (ainda que muitas vezes com dificuldade). Não se detém diante da dúvida, insiste até encontrar uma resposta satisfatória.  Ou várias respostas. Que podem levar a mais estudo, mais pesquisa, mais conhecimento.

É diferente da atual ignorância arrogante que acredita saber algo por decorar um par de fórmulas, dados ou fatos. Essa moda preguiçosa e perigosa que nos “encaminha” incontáveis pesquisas, vídeos com declarações, frases prontas e textos atribuídos a esse ou aquele filósofo, ou celebridade. E já te cobra uma “posição” apenas pelo fato de existir o tal vídeo, texto ou frase…

E eu com a frase? Existem outras! Ou com a declaração da fofa da hora ou do craque? Por que se contentar com apenas 2 “lados” ou opiniões se podemos ter inúmeros?

Nunca entendi essa mania de querer obrigar o mundo (ou a turma) a pensar igualzinho. Isso emburrece – para dizer o mínimo – além de estreitar horizontes. E torna a vida infinitamente monótona por previsível.

Já a diversidade, tudo o que é multi me encanta: é como viver em um caleidoscópio onde, dependendo do momento, da posição ou da conveniência podemos olhar mais para cá ou mais para lá e nos surpreender com os desenhos coloridos, sempre perfeitos e harmônicos.  Sim, me encanta tudo que é multi. Tudo o que oferece mais do que 1 ou 2.

É preciso ser generoso conosco vida afora.  O tempo passa e a vida pode mudar em um segundo. Por que devemos vive-la dentro de caixas criadas por um aplicativo?  Ou com crenças e crendices sem comprovação, na base do “ouvir dizer?”

Isso funciona para histórias e lendas folclóricas, mas, para a nossa vida – e alma, que se alimenta de sentimentos e valores – há que não ter preguiça. Devemos não apenas procurar, mas processar e acrescentar outras informações, ideias, opiniões. Que mal há?

Mas aí é que a coisa pega. Vivemos a onda da preguiça e da informação rápida, rasa e não checada. Aí não dá. O multi, o poli, o rico e o generoso não aceitam preguiça.  Fortalece-se com o movimento e não com mentes paralisadas ou binárias.

“Só sei que nada sei” – não à toa, essa frase foi dita por um dos grandes sábios da humanidade. (Alguém se anima a pesquisar quem foi?). Pois é: quanto mais conhecimento temos, mais percebemos o quanto falta.

Aprofunde o olhar, provoque e sugira novos horizontes, novos destinos, novas questões. Aí sim, teremos a informação que se equipara a poder e influência – e que, verdadeiramente agrega e transforma.




Como vamos emergir desse período?

Há quem diga que quem era bom vai ficar melhor e quem era do mal não conserta, só piora. Mas, vamos falar das habilidades sociais e do lazer que, aos poucos está retornando mais livre – para felicidade dos que gostam de espaços públicos – sejam eles praias e parques ou shoppings.

O que me inspirou esse assunto foi uma cena que testemunhei em uma praça de alimentação em minha primeira saída “puramente a lazer.”

O casal se levantou e largou bandeja, copos e muita sujeira sobre a mesa. O homem, olhando para trás, percebeu e voltou para recolher. A mulher, em vez de ajudar, o repreendeu em voz esganiçada “Anda fulano, não está vendo que tem funcionária para fazer isso?”

Horrorizei. Ora, as praças de alimentação, tem mesmo funcionários para recolher e repor o material. Mas é (ou deveria ser) para recolher as bandejas – e apenas isso – devidamente ordenadas em totens próprios para tal.

Ao deixar a mesa emporcalhada (não há outro termo), os clientes mal-educados estão prejudicando o fluxo e o timing pois, até que a mesa esteja limpa ninguém se senta.

E os tais funcionários são em número reduzido e calculado para ir e vir levando e trazendo bandejas limpas. Não para trazer panos e limpar porcarias grudentas de gente que sequer tem o cuidado de esvaziar pratos e xícaras no local apropriado.

Sim, agora todos tem álcool em gel e álcool 70 para higienizar, sim, eles são superatentos, mas não estão lá “para fazer isso” como disse a gralha.

Estivesse ela na Europa – o tal primeiro mundo para o qual tanto babamos ovo – pode ter certeza de que levaria um pito do dono do lugar. Ou do gerente. Que prontamente pediria que ela organizasse o lugar. Exagero? Nada disso. Lá os poucos funcionários disponíveis são pagos a peso de ouro – e quem atende as mesas se não for o dono é um parente ou funcionário super qualificado que não está “aí para fazer isso.”

Quem trata espaços públicos como um grande lixão certamente deve morar mal e tratar seu próprio quarto da mesma maneira. Assim como a família e, provavelmente desrespeita o sagrado momento de compartilhar a comida a mesa.

Sagrado sim: em meio a tanta incerteza nada mais sagrado do que ter comida e casa para compartilhar. E cuidar tanto de um quanto de outro é o começo para entender que não é normal comer pão diretamente sobre a mesa e largar as migalhas lá para alguém “limpar isso.”

Elite mal-educada, insensível e míope é escória com dinheiro. E não vale nada. Como vamos emergir desse período é uma escolha possível – e importantíssima para o futuro dos nossos filhos, mas, também para o nosso, não acham?