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Meias femininas: arrase na escolha

 

meia+claça+claudiamatarazzo

Há meias-calça mais esportivas, com texturas e desenhos em toda a perna. Lindas. Principalmente se usadas com roupas lisas e as pernas em questão forem delicadas  sem fazer a linha “sarada do pedaço”.

Meias opacas lisas – mais apropriadas para o inverno, são mais quentes com fios mais fechados. Tanto podem dar colorido ao traje – quando usadas contrastando com a roupa – quanto complementá-lo em uma sobreposição de tons. Ficam bem com botas e sapatos fechados.

Meias finas transparentes – estas sim podem ser usadas com sapatos mais delicados ou decotados tanto de dia quanto à noite. Hoje são fabricadas em uma infinidade de cores – das mais fortes as  cores pastel e até mesmo mesclando fios dourados ou prateados.

Meias cor da pele. Nada tenho contra elas, porém costumo dizer que, visualmente, não nos acrescentam nada. A cor nunca é realmente “da pele” e, quando usadas com vestidos ou saias na altura dos joelhos ou acima, acabam “cortando” a silhueta.

Tom sobre tom – adoro! No inverno, com roupas em tons fechados, dê preferência as pretas, fumês, marinho, café etc. No verão, – com roupa mais formal, divirta-se escolhendo entre os suaves marfins, champanhe, pérola, fumê claro, cinza e todos os outros clarinhos.

Meias soquetes e 3/4 – usadas com calças compridas elas devem ser como que uma continuação do tecido.  No mesmo  tom:  mais  claras ou mais escuras, com ou sem textura. Mas em harmonia. Se você estiver se sentindo muito alternativa e exuberante até pode arriscar  tons contrastantes ou estampas divertidas.

Mas lembre que a idéia é mostrar o conjunto e não chamar atenção para o detalhe. Ainda mais  se esse detalhes estiver tão longe de seu rosto e olhos- como é o caso dos pés.

 

 




Moda : novos nomes para conceitos conhecidos

Marsala-color-2015_claudiamatarazzo

Lendo a cobertura de alguns desfiles recentes confesso que em alguns momentos demorou para entender o que aquilo significava. Em uma matéria a repórter, cobrindo a SPFW escreveu que agora os looks estavam “libertos do gênero”  referindo-se a um lindo smoking de Glória Coelho. Ôpa!!

smoking de Gloria Coelho

Ok, talvez ela fosse muito jovem e simplesmente se referia a um visual unissex, andrógino, flex – para falar linguagem corrente.

Ah então tá! Assim como a expressão “transitando pelo clima” nada mais é do que o antigo “meia estação”.

De qualquer forma, apesar dos termos politicamente corretos e nada glamurosos ao contrário do que deveriam ser quando relacionados a moda, invista em peças assim: práticas, versáteis e úteis pois não vão te deixar na mão.

Cor da Moda:  não caia nessa e questione. Sou contra as “cores da estação” – sempre aconselho que, analise e questione se te favorecem – antes de aderir a qualquer um destes tons que de repente invadem as capas de revistas, vitrines e, como num passe de mágica, nossas casas.

Lembro-me bem de uma temporada em que o mundo parecia todo frequentado por imensos e verdes lagartos: era a moda do verde exército,”army” ou o que fosse – que durou longos dois anos…

Fugi daquilo como o diabo da cruz: verde, bege e marrons me deixam com aparência doentia. Não foi fácil mas um dia acabou. E novamente as vitrines nos apresentavam peças coloridas e mais alegres.

A atriz Katharine Hepburn está sentada com o corpo reclinado , usado um vestido no tom marsala, colares de pérolas radiantes junto ao pescoço e na mão esquerda tem alguns anéis no dedo mindinho. Seus olhos azuis brilham como as jóias que veste. atras dela tem uma anfora enorme.

Katharine Hepburn, atriz

Aproveite agora com o tom  marsala – pode não ser o seu preferido mas é uma cor vibrante e mais fácil de usar e combinar. E, como se pode ver por essa foto pra lá de atual – embora feita há décadas – de Katherine Hepburn certamente não ficará datada.

 




“Moda brasileira” na UTI

em um quarto de hospital envidraçado, uma modelo vestida de enfermeira, com cabelos presos e touca e tudo, se debruça sobre um paciente deitado em cama hospitalar com cabeceira de metal. Ele está com o torço nu olhando para lente aparentemente agonizante.

Década de 1970 : a moda feita no Brasil explodia com marcas que faziam sucesso e vendiam muito como Gledson (uma mania nacional), Staroup, Yes Brasil, Company, Imperchic, Pull Sport, Lastri, Rurita, Atelier Parisiense – e tantas outras que mal davam conta de produzir o que era consumido.

Dezenas de costureiros ( e até centenas ) alimentavam o mercado de luxo, com tecidos nacionais, mas que acompanhavam os passos da moda internacional.

Nos anos 1980 – fabricantes de jeans e camisetas resolveram ser japoneses e belgas em seus produtos, influenciados por jornalistas de moda que, de mercado, entendiam tanto quanto da fabricação de biscoitos dietéticos.

Donos de fábricas, resolveram ser estrelas e “criadores”. O resultado foi o desaparecimento de maioria delas e também da nossa indústria têxtil, com importantes fábricas tradicionais fechando suas portas.

A moda mudou – e com ela vieram tecidos criativos e preciosos, não mais encontrados por aqui, obrigando nossos estilistas a procurar e achar somente nos importados, aquilo que precisam para que suas criações possam, pelo menos, acompanhar o que se faz no mundo.

Sem matéria prima, sem modelistas qualificadas, sem costureiras e mão de obra bem preparadas, sem aviamentos adequados às novas tendências, encalhamos em pretensões “conceituais”.

Enquanto se fala do “sucesso” da moda brasileira lá fora – uma mentira facilmente comprovada por números, nunca se viu uma invasão tão grande de produtos estrangeiros como agora. E continuamos a patinar, estimulados por Maries Rukis, “pensadores” e jornalistas que aqui desembarcam, regiamente pagos por aqueles que imaginam que filosofia e “pensar em moda” são a solução para a crise que se instalou – com o estabelecimento, não só de grifes internacionais sofisticadas e caras, como até populares, mas modeiras, como Zara e Topshop.

Buraco da agulha – é mais embaixo: há quem culpe os “altos impostos” (como se a mercadoria que chega, não pagasse exorbitâncias na importação). Mas, na verdade faltam investimentos de base, como em nossas “faculdades” de moda. Sim pois, por uma pernóstica pretensão das pedagogas do MEC, colocaram a moda sob as asas do “design” – coisa completamente sem cabimento!

Assim, as Faculdades de Moda são obrigadas a ministrar disciplinas totalmente desnecessárias para nossos futuros estilistas, ocupando o espaço que seria devido à modelagem, costura, engenharia e desenvolvimento do produto.

Alhos com bugalhos – agora, pasmem – querem colocar o que, como bem disse Karl Lagerfeld, é artesanato, como “cultura” para obter financiamentos da Lei Rouanet. Triste:mais uma vez, nosso dinheiro será aplicado em inutilidades e o resultado será, como sempre, inevitavelmente, nulo.

 

 

 




Gayegos fala o que pensa

O estilista José Gayegos, de cabelos grisalhos cotados rentes a cabeça, está sentado em um sofá de cor creme vestindo um paletó marinho tipo farda. Na lapela e junto ao ombro usa 4 condecorações

Um dos motivos pelos quais o respeito e admiro é pelo fato de ter contribuído  decisivamente para a evolução do ensino de Moda no Brasil. Ainda: ele sempre  fala ( e falou )  o que pensa, nunca teve medo de ser politicamente incorreto – e com isso acaba sendo de uma correção irritante.

Esse ping -pong abaixo é apens um leve aperitivo de  como pensa nosso polêmico e querido colunista.

Claudia – você parece ter nascido entendendo de moda e comportamento – se não tivesse sido estilista o que gostaria de fazer?

Gayegos – trabalhar na TV. Ter um programa de moda, comportamento e muita polêmica.

Claudia – hoje temos  a Internet e muito mais rapidez nas comunicações: como tudo isso refletiu na criação da moda e dos desfiles?

Gayegos – com a informação instantânea, a moda acabou por ser autofágica. Se destrói rapidamente. Desfiles não são mais para mostrar roupas mas pra fazer marketing. 

Claudia – defina 3  períodos de glória e efervescência da moda brasileira – ou não temos 3?

GayegosSim, temos três:  Fenit  – importante porque foi a primeira feira de moda do Brasil e a Rhodia apoiou desde o começo.Dener porque foi o primeiro estilista brasileiro a ter um ateliê com o próprio nome e também o primeiro a usar temas nacionais em suas coleções.
E o  SPFW foi importante pq colocou ma mídia e redes sociais os principais nomes e marcas nacionais de uma forma organizada e com calendário pré-definido.


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Claudia – você trouxe o método  Esmod de modelagem de Paris para o Brasil há 20 anos. Dá para dizer quais as principais mudanças  de sua disseminação nas escolas de moda aqui? 

Gayegos – Começou em 1994. A principal mudança foi olhar a modelagem como parte importante da criação de moda. Não tenho modéstia em dizer: o ensino de moda no Brasil se divide antes e depois de José Gayegos / SENAC...

Claudia  – cite 5 nomes que marcaram a indústria da Moda no século 20 – e mudaram nosso olhar quanto ao tema ” vestir”.

Gayegos – Chanel, Courrèges, Cardin, YSL e...Zara.

Claudia – o  que te inspira quando faz uma roupa?

Gayegos – o corpo da mulher e os tecidos. Coloco estes em cima da modelo ou do busto de costura e eles me dão a direção. Tenho por hábito não contrariar nenhum dos dois. Acho muito pretensioso estilista que diz se inspirar em filmes,  livros, etc e fazer roupas que ninguém nunca vai querer usar, apenas pra mostrar uma certa erudição que, na maioria das vezes, nem existe. 

Claudia – você é um agente provocador – sempre foi assim ou foi ficando??

Gayegosdigamos que nasci assim e fui aperfeiçoando.

Claudia – o que te galvaniza-  para o bem e o que para o mal???

Gayegos – nos dois casos: a injustiça e minha integridade pessoal




Brazilian Style – o livro dos equivocos

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Muitos fogos e rojões foram soltos pela cultura Disneyworld que se instalou no país, imaginando que algum alienígena possa acreditar que “o ovo é a mais popular comida de rua do Brasil”.  Apaixonado, segundo ele, pelos nossos símbolos, cercou-se  de algumas das mais carimbadas figurinhas  do  cenário “social climbers & history  ignorants”, para cometer atentados, colocando foto do retrato de D.Pedro II como sendo o de seu pai, de tribo africana como sendo brasileira, de manequim do Dener como sendo ele próprio.

Não se sabe quais os critérios usados para a seleção de personagens e fotos, mas houve espaço para Conrado Segreto, o breve,  e não para Guilherme Guimarães, o duradouro; para Gaby Amarantos e Joelma, mas não para Ney Matogrosso e Cazuza; para João Havelange, mas não para Juscelino Kubitschek; para Eike Batista, mas não para Assis Chateaubriand e Roberto Marinho, para Seu Jorge, mas não para Jorge Ben; para Marisa Monte, a geladeira solfejante, mas não para a eterna Elis Regina; para Mart’nália, mas não para Ângela Maria (que aparece, sem citação, na capa de O Cruzeiro) para Alair Gomes, mas não para Sebastião Salgado! para Moqueca, mas não para Churrasco,  para Alex Atala, mas não para Padaria. Também não houve espaço nesse “estilo brasileiro” para a irresistível Regina Casé e para o mitológico Cauby Peixoto, mas houve, é claro, página para o persistente-do-pândego, Walério Araújo.

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No telecurso midiático colonizado  em que o Brasil se transformou, qualquer gringo bem relacionado, muito mais interessado nos corpinhos sarados dos jovens praianos do que, propriamente, na cultura brasileira,  pode fazer um livro medíocre sobre nosso estilo de vida e ainda ser elogiado e até patrocinado.