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Agora o Luxo é Pop

Em primeiro plano da foto está uma caneca de café em ágata branca com um coador de pano individual em uma armação de arame. Sobre o coador um bule verte água fumegante e percebe-se embaixo do coador o café saindo igualmente fumegante. Ao fundopercebe-se um ambiente de cozinha com utensílios para cozinhar pendurados em uma prateleira de madeira.

Passamos as últimas décadas ouvindo falar de Luxo e mercado do luxo. Grifes de luxo, carros de luxo, experiências do luxo e até mesmo cursos de luxo .

Deu-se o inevitável: o bolso das pessoas aguentou, o mercado saturou, nossa tolerância para conviver com uma propaganda enganosa e frustrante idem.

Aos poucos o mundo está percebendo que luxo mesmo é o que nos faz feliz: porém feliz alma adentro e sentidos afora.

E não o infrutífero correr atrás de grifes e marcas apenas porque o comercial na TV ou das Redes Virtuais assim o define.

No dia a dia já observamos várias manifestações desse novo luxo mais simples e menos ostensivo.

Food trucks – é também uma resposta democrática a tanta frescura que começou a acabar com o prazer de se comer em bons restaurantes.

Nos food trucks além de boa comida a preços melhores, as pessoas reaprendem a partilhar um espaço comum para comer, beber, interagir com vizinhos de banqueta ou mesinha – e redescobrem certas dimensões perdidas desse luxo cotidiano que é saborear a refeição de cada dia.

Café coado – as máquinas e sachês começaram a custar o equivalente a uma moto (as máquinas) e um bom livro ou DVD (a caixinha de sachês).

Não deu outra: agora que temos uma variedade in-crí-vel de grãos moídos, torrados e misturados das maneiras mais diversas, as super máquinas de expresso foram substituídas por um bonito bule com água fervendo, que se derrama vagarosamente sobre um coadorzinho individual de pano…

O ritual, demora sim e é um prazer ver a água assentando e absorvendo o pó até leva-lo coador abaixo, já como líquido escuro e aromático.

Cozinhar em turma – se antes o bacana era sair para comer fora, hoje há uma tendência a convidar amigos para cozinhar juntos e saborear uma refeição previamente combinada em casa.

O luxo deixou de ser o nome do chef ou do restaurante – e sim, a sensação de que podemos e conseguimos fazer nosso alimento desde o início – com direito a uma horta caseira – até o momento de apresentar a mesa lindo e fumegante um prato que nos satisfaça o paladar, nos envolva e, de quebra ainda possamos compartilhar com quem amamos .

Ok, meu lado italiano falou mais alto: mencionei só as coisas ligadas a gastronomia e agora não tenho espaço para o resto.

A lista desses luxos democráticos é grande mas, por ora, me contento e partilhar com vocês a noção de que, aos poucos vamos nos libertando dessa prisão sem chaves , dourada e brilhante que muitos desavisados entendiam como Luxo.