Irmãos entre eles, filhos entre vocês
Dia desses, ao parar no estacionamento de um shopping que freqüento, depois de alguns momentos de papo, o amigo Patrick – que me auxilia sempre que preciso parar por lá – me expõe que tem uma irmã com deficiência.
Na conversa percebi que a família entende que o diálogo é a melhor maneira de conviver de forma saudável entre os irmãos. Mas ele deixou escapar uma frase que resume o que acontece com muitas famílias como a dele:
“a atenção é sempre maior para a minha irmã. Ela é a do meio e todos vivemos em função dela”
Por isso, é fundametal refletir e avaliar com cuidado a posição que os irmãos de uma pessoa com deficiência assumem ao tomar conhecimento da situação.
A forma como eles encaram o convívio com as limitações e as peculiaridades daquele irmão com deficiência – em geral muito querido, mas nem sempre entendido – pode interferir muitas vezes positivamente, mas, quase sempre, pelas experiências que ouço, negativamente.
Aliviar é preciso – a sobrecarga que os outros irmãos recebem e o senso de responsabilidade é uma situação recorrente nas famílias que tem um filho com deficiência
Quase com como se eles tivessem que se tornar segundos “pais” do irmão com limitações.
Ora, o tratamento desigual dado aos irmãos com e sem deficiência pode potencializar a ansiedade e o sentimento de injustiça. Esses sentimentos dificultam o fortalecimento de vínculos sociais – além de fazer com que a criança com deficiência fique muito centrada nela mesma.
Em minha experiência como Educadora percebi – em alguns casos – que os irmãos sem deficiência lidam com uma mistura de sentimentos, que variam entre ciúmes, hostilidade e pena. O que acaba causando dificuldades até mesmo na relação fraterna.
Para que entendam essa realidade entre as famílias, deixo um pedacinho do livro “Irmãos Especiais” dos autores são Powell e Ogle.
“Tudo o que Mindy fazia era aceito com grande entusiasmo por nossos pais. Em contraste, a reação de mamãe e papai às minhas realizações não passava de um mero tapinha nas costas. Esperavam que eu me portasse bem em qualquer circunstância. Eu queria que meus pais ficassem entusiasmados com o que eu fazia também… Queria que me dessem atenção” (p.33).
Por outro lado, quando esclarecidas sobre as diferenças, esse mundo dos irmãos pode ser repleto de afeição, cumplicidade e companheirismo.
E esse diálogo é de responsabilidade dos pais, podendo ser auxiliado por profissionais. É importante falar com clareza sobre as atenções e cuidados com o irmão que tem deficiência, bem como, das suas potencialidades.
Para finalizar, é necessário e urgente que instituições, escolas e outros locais de atendimentos à pessoa com deficiência ampliem essa atenção – que hoje fica bem centrada nos pais – para os irmãos, os avós, tios, amigos, padrinhos.
Vamos escutar o que os irmãos pensam e sentem, quais as suas preocupações, necessidades. E finalmente, o que enfrentam e como estão se desenvolvendo pessoalmente. Pode ser um caminho mais longo mas, sem dúvida nenhuma, mais seguro e gratificante não é mesmo?