A questão é que, valendo-se de sua superioridade de direitos (homens ainda “valem” e podem mais que as mulheres apesar do bravo combate de tantas), somos nós as maiores vítimas, não apenas dessa ignorância arrogante, mas também da maior parte das cafajestadas.
Aos fatos: pesquisas anuais – atualizadas sempre nessa época – continuam a mostrar uma defasagem de 30% para menos nos salários femininos em cargos equivalentes. Talvez por isso mesmo as mesmas pesquisas mostram que as mulheres trabalham os mesmos 30% a mais em um esforço para produzir mais e “merecer” eventual equiparação.
Nessa pandemia, outra pesquisa mostra que as perdas financeiras e emocionais das mulheres foram significativamente maiores que as dos homens. Percebem que temos um abismo de praticamente 60% acumulando perdas?
O que posso dizer que seja inspirador e comemorativo da data? Antes, vou comentar a mais recente cafajestada, chancelada, por ironia, pela assembleia legislativa de São Paulo as vésperas da semana da Mulher: o deputado Fernando Cury, que, apalpou a colega Isa Pena descaradamente por trás, em pé e devidamente registrado, teve sua pena decidida: não perderá o mandato, mas será suspenso por 4 meses. Ignoro se continua a receber o salário embora para mim, falha de caráter mereça perda de mandato. Mas quem sou eu? Apenas mais uma mulher com mimimi.
Aos cafajestes – o deputado deve sua pena branda ao seu advogado dr. Roberto Delmanto – de família de conhecidos juristas. Não acho que todo homem precisa ser um cavalheiro daqueles que deixam saudades massss… cafajeste não dá!!
Advogados usando expedientes cafajestes são os piores: em defesa do deputado, o doutor alegou que “apalpar a lateral do corpo não é tão grave” ignorando que ele o fez por trás, literalmente encoxando a colega em pé e sem o seu consentimento!
Lamber a orelha pode doutor? – pela lógica do advogado, sim. Assim como, se fosse uma mulher sendo julgada, não teria problema nenhum, em plena sessão e a frente de todos, ela chegar por trás de algum colega e a palpar-lhe a virilha – não o pênis, apenas a virilha – que é perto do pênis e não é grave.
Dou um picolé de chuchu ao macho que conseguir confessar do fundo do coração que sim, sente-se incomodado com uma intimidade dessas, ainda que não tenha sido apalpado no bilau, apenas perto dele.
Pensando bem, não precisa se preocupar caro leitor: isso não tem muita chance de acontecer. Porque a maioria das mulheres – verdadeiras mulheres – jamais perderiam seu tempo e nem tem interesse em apalpar quem quer que seja apenas por apalpar – temos mais o que fazer. E as que o fazem, não nos representam: são cafajestes.
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