Há pouco tempo em São Paulo, o prefeito Fernando Haddad, publicou um decreto que autoriza a circulação de skate, patins, patinete, triciclo, quadriciclo, bicicletas elétricas e CADEIRA DE RODAS.
Com a decisão da Prefeitura, contudo, o cadeirante paulistano passa a ser considerado um veículo, não mais um pedestre.
Cadeira de rodas não é veículo – a diferença dela com relação aos outros meios de transporte listados no decreto é que ela é uma extensão do corpo do cadeirante. E não um meio de transporte do qual pode se abrir mão, como uma bicicleta, um skate ou um patins.
Porque o retrocesso? – conceitualmente, tal caracterização é um retrocesso, já que ao definir espaços distintos para circular diferenciou-se também a pessoa na cadeira de rodas para a pessoa que caminha com as próprias pernas.
Ruim para todos – na prática, o decreto é uma ameaça para segurança de muita gente, independente de estar andando, pedalando ou cadeirando.
Como bem lembrado pelo jornalista e parceiro de causa, Jairo Marques, “cadeiras de rodas não têm retrovisor e bicicletas não possuem freios ABS.
Pode parecer engraçadinho mas é assunto séríssimo!!
Qualquer gestor municipal sabe que, em todo o Brasil, cadeirantes são obrigados a circular pela rua porque não contam com calçada acessível. Mas esse nunca foi e será o meio mais seguro para quem tem uma deficiência ou mobilidade reduzida.
Claramente também não é o que ocorre nas grandes cidades do mundo que são símbolos de mobilidade urbana. Em Amsterdã, por exemplo, onde a bicicleta é um meio de transporte muito utilizado, cadeirantes circulam pelas ótimas calçadas construídas pelo Poder Público e não pelas ciclovias.
Em tempo: as ciclovias de Amsterdã são de qualidade superior das feitas em São Paulo, cuja tinta escorre com a chuva e passa sobre ruas remendadas e com desníveis.
Por outro lado, São Paulo, por mais problemas que tenha com o passeio público, ainda é uma das cidades brasileiras referência em acessibilidade.
Um decreto deste cunho caminha contra tudo o que vem sendo construído pelo direito de ir e vir com liberdade e segurança. Sem falar que ao investir maciçamente nessas ciclovias o prefeito está deixando de investir – dinheiro e esforços – em melhorar calçadas!
Porque não a calçada? – nenhuma outra decisão, por mais bem intencionada que seja, pode ser mais segura e adequada para um pedestre que um passeio público que o dignifique e não o diferencie por utilizar uma cadeira de rodas.
Segundo o IBGE, 30% das viagens diárias realizadas em todo o País são feitas a pé. Por conta do alto custo do transporte público, andar não é apenas uma alternativa saudável, é também o meio mais econômico de se locomover e interagir com a cidade.
Se o objetivo do prefeito Haddad era investir no bom convívio entre as tribos e os meios de locomoção, ele deveria rever sua decisão e investir na reforma de nossas calçadas.
A calçada é o equipamento mais universal de uma cidade. Quando acessível permite que andantes, cadeirantes, cegos, idosos, crianças e toda a diversidade humana coexista e tenha a possibilidade de chegar ao outro com respeito e sem barreiras.
6 Comentários
Lia Crespo
27/03/2015 as 16:28Eu uso capacete por causa das calçadas mesmo. Minha cadeira virou num desnível e machuquei a cabeça.
Claudia Matarazzo
29/03/2015 as 14:21Lia Incrível que tenhamos chegado a esse ponto né? Mas o fato de estar ruim desse jeito não quer dizer que devamos concordar e aceitar!!
Beijos grandes!
Bruno
29/03/2015 as 17:36Reaça sendo reaça. Quer botar defeito em tudo que é inovação. Parabéns Haddad, continue assim. Melhor prefeito de São Paulo
Claudia Matarazzo
30/03/2015 as 17:42Caro Bruno você acha em sã consciência que não tem perigo nenhum colocar em uma mesma pista de largura de pouco mais de um metro patinetes, skates, bicicletas e pessoas com mobilidade reduzida?! Se preocupar-se com a qualidade do espaço comum das pessoas é ser reaça, sou reaça com MUITO ORGULHO.
Donato
10/08/2015 as 23:46Foi uma das idéias mais idiotas que um político poderia ter.Esse desenho da postagem não é cômica.Muito longe disso,retrata a realidade.Eu não me animo andar com minha cadeira de rodas em uma ciclovia.Tanto por causa dos próprios ciclista e esqueitistas quanto e principalmente dos motoristas de veículos e ônibus que não obedecem as leis de transito.Os vereadores que tiveram e ou tiverem essa ideia, deveriam primeiro antes de encaminhar um projeto desses para votação e aprovação, deveriam primeiro sentar em uma cadeira de rodas e fazer essa experiência,principalmente em cidades grandes e capitais.
Claudia Matarazzo
12/08/2015 as 22:20Donatp você tem toda a razão. O desenho é sério – embora o traço seja até divertido. Quem fez tem vários amigos cadeirantes – inclusive a Mariana Reis que escreve aqui. Quanto a idéia – e pior a insistência em aprovar um projeto tão deseducador e surreal como esse, é de se lamentar e protestar até incomodar mesmo… Um beijo e se tiver sugestões ajude-nos a dar visibilidade a questões importantes como essa!