Foi no Rio de Janeiro dos anos dourados que ele passou das mesas mais modestas para os grandes salões,
O Picadinho Carioca não é um picadinho qualquer. A carne deve ser cortada na faca, dourada em óleo, temperada a gosto e servida acompanhada de arroz, ovo poché, batata noisette (redondinha e dourada na manteiga), couve refogada, ervilha, farofa, às vezes caldo de feijão e banana frita ou à milanesa.
Na década de 50 que passou a se chamar Picadinho Meia-Noite, incorporado ao cardápio da elegante boate com o mesmo nome do sofisticado Copacabana Palace.
Ali, deixou de ser comida de pobre, e que deu esse upgrade a receita foi Paul Ruffin, chef executivo do Copa, que ditava a moda culinária na cidade.
Por sua inspiração, e do Barão Max Stuckart, o exigente gerente do Copa, o Meia Noite foi o berço desse um prato que acabou por sacudir a cozinha nacional.
Da maneira como Stuckart o concebeu, a carne era sempre de primeira: pontas de filé-mignon picadas- temperada com cebolinha, louro , sálvia, segurelha, alecrim e manjericão , além dos convencionais sal, pimenta, tomates machucados e manteiga
O resultado era servido numa rústica travessa de barro, com arroz, agrião picado, farinha de mesa e um ovo poché por cima.
A exemplo da sopa de cebola, em Paris, o picadinho revelou-se ideal para salvar vidas em horas mortas e recuperar disposições abaladas por uísques além da conta – mais ainda depois que, adotado até mesmo abstêmios e pelos que dormiam cedo, se generalizou pela noite do Rio.
Foi o primeiro prato assumidamente brasileiro a dividir os pernósticos cardápios finos cariocas – que então brilhavam nas mesas como “Jambon d’York Braisés au Madere “ e “Délices de Robalo à la Bonne Femme”.
Em pouco tempo tornou-se o prato preferido de políticos, empresários, diplomatas, artistas e intelectuais nacionais e e estrelas de Hollywood em visita à cidade.
Seus os adeptos mais fiéis foram os playboys, a começar por Jorginho Guinle – sobrinho de Octávio Guinle, fundador do Copa em 1923 – e seus inseparáveis amigos Baby Pignatari, Carlos Niemeyer, Ibrahim Sued, Mariozinho de Oliveira e Sérgio Peterzone.
Mas, entre seus fãs, estava, imaginem só, o Presidente Getúlio Vargas – que chegava a sair do Palácio do Catete para saborear a iguaria.
O jornalista e escritor Ruy Castro, conta esses e outros detalhes da vida noturna do Rio no ótimo livro ‘A Noite do Meu Bem’ (Companhia das Letras São Paulo, SP, 2015)
Amanhã, vamos dar a receita caprichada desse prato, ideal para recuperar as forças em uma quarta feira de cinzas, tal e qual vi na Revista Gosto – que , como sabemos, prima pela exatidão de suas deliciosas dicas!
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