Aliás resisto como fazemos todas há séculos, como sempre o fizemos desde que o mundo é mundo: resistimos comendo pelas beiradas.
Resistimos com furiosa delicadeza. Acolhendo com empatia e sororidade.
Resistimos em silêncio. Em doloridas pausas. Em férteis encontros, compartilhando problemas mas, principalmente – e sempre – oferecendo soluções. Resistimos oferecendo nosso colo – jamais a outra face.
Esse ano, pensei, pela primeira vez, comemorar. Foi quando, muito honrada pelo convite da dra. Isabel de Castro, compareci a OAB em São Paulo, para primeiro encontro da comissão da Mulher Advogada.
Foi a primeira reunião sob a gestão da dra. Patrícia Vanzolini – a primeira mulher a ser eleita presidente da Ordem em 90 anos.
Ora, 90 anos, na História da Humanidade é um átomo de segundo. Mas, para promover tantas e tão necessárias a mudanças é uma eternidade! Sempre temos pressa!
Enquanto escrevo, meu celular não para de apitar com mensagens indignadas sobre a frase infeliz e escabrosa do deputado estadual por São Paulo Artur do Val (vulgo “Mamãe Falei’ do Podemos ) sobre as Ucranianas “serem fáceis por serem pobres”.
Agora me digam; dá para comemorar o dia da mulher quando vemos que nós próprios elegemos gente com esse tipo de atitude?
É triste: Mamãe Falei elegeu-se na esteira dos milhões de seguidores que o achavam “jovem” e com frescor de quem nunca foi político (de nada adianta com tamanho ranço machista).
Não é mimimi: o áudio vazado do dito deputado continha passagens de uma baixeza e escatológica tamanha que fica ruim publicar aqui. Difícil me escandalizar tanto – mas é de embrulhar o estômago e desanima a mais otimista das criaturas.
Abram o os olhos galera! Esse ano tem eleição (sim, de novo). Vamos nos comportar como se estivéssemos no estádio em final de copa do mundo ou vamos fazer um pouco de lição de casa desde já? Pesquisar conversar, (ouvindo sem brigar ou interromper) e se informar com mais detalhe?
Voltando as mulheres: vamos comemorar o que? Os 30% que trabalhamos a mais para ganhar exatos 30% menos que os homens no mesmo cargo? (E ano após ano essa pesquisa se repete sem alterar os índices)…
O feminicídio e a violência doméstica que continuam a aumentar em todo o país? Ou a criatividade das campanhas que circulam pela internet com variadas maneiras para as mulheres pedirem socorro em silêncio (para não enfurecer ainda mais o agressor que quase sempre mora com elas)?
Não consigo. Fica cada vez mais difícil achar alguma beleza, paz, ou equilíbrio no dia a dia desse mundo…
Esse ano ainda não comemoro. Mas resisto!
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