Sim, dá medo! Mas se jogue! É extremamente estimulante. Como um banho de cachoeira…
Preconceito e rótulos podem ser tão nefastos quanto é benéfica sua desconstrução.
Criam barreiras, mágoas e cicatrizes. Travam o dia a dia e a vida, muitas vezes, sem que se perceba. Outras, criando verdadeiros buracos negros na alma.
Rótulos não nos definem – mas aprisionam. Assim como o preconceito, divide e em nada agrega. Sem falar que limita a visão e entendimento da vida – sem seu sentido mais prosaico até o de maior magnitude.
Olhar além do rótulo é um exercício saudável, rico e que melhora o mundo de fato. Sei disso pois desde muito cedo aprendi a questionar os rótulos e fugir deles.
Eu própria, criança não me enquadrava nos rótulos da casa: era a morena, magra e rebelde – caçula de dois irmãos gorduchos loirinhos e tranquilos. Queria pintar meu quarto de preto (para horror de minha mãe que, quando percebeu que era uma simples preferência de cor achou graça e contou pra toda família). Fosse hoje talvez tivesse me colocado na terapia…
Anos depois fui fazer jornalismo e cantava em shows – para igual espanto da família, cuja única cantora foi a agregada e Divina Maysa. Apesar da aparente rebeldia, me adequava razoavelmente bem ao “sistema” – e olha que o sistema dos anos 60/ 70 era meio barra pesada para quem, como eu, tentava enxergar além do que se me era apresentado. Mas nunca me conformei com nenhum rótulo.
Acho a maior graça do mundo quando vejo que, pelo meu trabalho ligado ao comportamento, esperam de mim uma múmia engessada em regras. Ainda bem que, ao vivo, as pessoas conseguem fazer uma leitura rápida de minha alma e percebem que não é em assim…
Hoje vivemos o apogeu dos rótulos e do preconceito. E me horroriza observar uma juventude apática, cuja maior aspiração é ser igual a alguém que é igualzinho aquele jovem em questão.
Com o mundo resumido a fotos e likes, temos que ser rapidamente decodificados através de imagens e palavras que o burro algoritmo reconheça.
Não é assim que a banda toca, mas o algoritmo não entende de música. Nem de sentimentos ou de felicidade. Apenas de likes, que, como sabemos podem trazer uma imensa angústia.
Já, a desconstrução de preconceitos passa pelo autoconhecimento (e análise) sincero e corajoso. Não é fácil, mas, como qualquer prática, melhora muito com o tempo. Liberta, traz revelações e descobertas. Enriquece. Entre o preto e branco há muitos tons de cinza. Saindo do clichê: entre a direita e a esquerda há muitas curvas no caminho com diferentes paisagens. Quem falou que temos que nos limitar e viver em burras dicotomias? Sacudamos a poeira e vamos desconstruir!
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