1

Febre de Sofrência

Cantor Pablo jovem e moreno, em foto close vestido de preto, olhando firmemente para a lente

Cantor baiano Pablo

Tenho pra mim que a razão do sucesso da sofrência é a pura necessidade de sofrer em paz e abertamente.

Sim pois, desde o advento da internet, não nos foi dado mais o direito de chorar ou viver qualquer tipo de luto em nossa santa privacidade e pelo tempo que nos aprouver.

Só nos é permitido ser feliz. Pode reparar: nas fotos de facebook, instagram, e até mesmo nas revistas só são permitidas imagens de pessoas, cenas e até cachorros felizes. De preferência posando cuidadosamente em seu melhor ângulo.

Na academia, bar, balada ou show todos tem que comparecer nos trinques, sorrindo, beber muito, dançar como se não houvesse amanhã e ser feliz.

E se não for – tome um remedinho. O que não pode é ficar triste.

Selfies são feitos e postados aos quaquilhões a cada segundo no mundo todo. Mas, é quase impossível encontrar uma imagem de selfie triste. Quase.

Porque, vamos combinar, na vida real a gente sofre à beça. Ou você acha normal alguém se separar depois de anos de casamento e dar uma festa enorme de descasamento?

Eu heim? E os milhares de motivos que nos fazem querer arrancar os cabelos de tristeza, depressão, insatisfação , carência, inveja e muuuitas outras sensações negativas que nos impossibilitam o sorriso eterno e fake dos selfies?

Levei um pé na bunda – e de alguém que eu realmente achava que me amava e, pior, que não consigo deixar de amar. Dá pra sorrir?

Fui demitido – há meses e não consigo me recolocar. Dá pra sorrir?

Engordei muito – perdi montes de roupas e ando me sentido um baiacu. É pra sorrir?

Fui traído pelo colega – dá pra sorrir?

Envelheci – e agora percebo uma série de limitações e falta-me o tempo para realizar tudo o que sonhei . É pra sorrir?

Ok, chega. Só quis dar exemplos cotidianos de como as pessoas precisam mostrar outras emoções além do sorriso.

E, nesse contexto, chega Pablo com sua música. Sofrência = sofrimento acentuado misturado a carência. Essa definição é do cantor baiano, que está faturando um monte arrancando suspiros de plateias cada vez maiores.

E como se não bastasse, ainda é jovem e canta bem.

Beleza! Liberou para geral ir ao show e se esbaldar cantando aos berros a sua dor. Com direito a beber e dançar com ou sem parceiro – pois no universo da sofrência é normal estar sozinho, infeliz , carente e a beira do abismo.

Só não vale, Deus me livre, se deixar fotografar em ação sem sorrir.