“Quem nunca curtiu uma paixão – esse não vai ter perdão” a frase, de um sucesso musical dos anos 70, resume a importância desse sentimento.
Sim, paixão é um grande motor em qualquer forma que nos chegue. Mas aquela física, do tesão inexplicável, da química inebriante, é tão volátil quanto a faísca que lhe acende até explodir.
Já a paixão da alma é necessária e perene. E nos alimenta vida afora – inclusive entre amores, tristezas e dissabores.
Falo da paixão abrangente, que nos faz pular da cama com vontade de superar limites. Aquela que nos estimula mesmo quando parece que não vamos conseguir. E sempre conseguimos – porque atrás de todo o esforço, da tentativa de compreender e aprender, está esse sentimento secreto, que só nós mesmos entendemos. E muitas vezes nem conseguimos explicar.
Só a paixão explica – crianças que se dedicam horas e esportes que seus pais jamais as imaginariam fazendo – e tornarem-se campeões.Ou casos como do maior bailarino de todos os tempos – Rudolf Nureyev – que foi lenhador até os17 anos de idade. E que, ao descobrir a dança, contra todas as expectativas, desenvolveu uma técnica perfeita e tornou-se um astro internacional.
Em São Paulo, Dona Neusa, uma senhora de mais de 60 anos, descendente de japoneses, vestida com as roupas tradicionais, pode passar facilmente por uma dona de casa delicada e submissa.
Pois no dojo –onde seu marido ensina Aikidô, Dona Neusa, com um simples movimento do punho derruba incontáveis marmanjos que desacreditam da força daquela senhora. Paixão. E disciplina claro, mas sem a paixão para dar o impulso não há disciplina que resista.
E o que dizer de uma mulher de 90 anos, que diariamente desafia a idade e sua agenda lotada para montar a cavalo acompanhada de um solitário ( e provavelmente muito aflito) guarda costas? Paixão claro – e provavelmente é uma das coisas que mantém a calma da Rainha Elizabeth II – há tantas décadas no poder, representando com dignidade as monarquias do mundo…
Sem síndrome de campeão – você não precisa ser o melhor no que faz. Mas deve fazer o impossível e cultivar sim o que gosta. Pode até não ser uma grande paixão no começo. Mas essa é a vantagem da paixão da alma: ao contrário da do corpo, ela só aumenta, embeleza e se fortifica com o passar do tempo.
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