Se da primeira vez fora um baita susto, agora o clima era de puro pânico. Era o dia 20 de março, quando o avião da Germanwings ainda não caíra devido ao gesto suicida de Andreas Lubitz.
Ainda assim, detesto voar embora faça isso com mais frequência do gostaria. E entre preces angustiadas comentei com meu vizinho de poltrona que o piloto era ou muito craque ou um incompetente.
Mas, em questão de segundos o comandante do vôo JJ-3320 da TAM ,anunciava com voz tranquila que não quisera pousar na pista ainda muito molhada do aeroporto de São Luis do Maranhão. E que estávamos rumando para Fortaleza para esperar em terra melhores condições.
Chovia muito e a passageira junto a janela, achando que ninguém olhava, ligara o celular e trocava torpedos com alguém.
Mas é claro que, apavorada e, caxias que sou, depois de avisá-la, vendo que não desligava, avisei o comissário.
Que não precisando desse estresse extra passou-lhe um pito delicado e firme. Uma hora depois, nervosa e lendo para me acalmar, pousamos em Fortaleza.
A espera seria no próprio avião e, por aflição e vício de profissão, observava atentamente o comportamento da tripulação.
Ao abrir a cabine do piloto eis que a voz adquire forma: jovem e bonito – não mais de 45 anos – com gestos tranquilos ele tomava água diretamente da garrafa como se a vida dependesse disso.
Pensei no seu provável desgaste e na rapidez de decisão e reflexos necessária para duas arremetidas já quase a tocar a pista.
Se nós estávamos com os nervos em frangalhos, aquela sede sôfrega era o mínimo – considerando que ele ainda teria que nos levar a salvo para São Luis.
O que acabou acontecendo – com 5 horas de atraso, ao cabo das quais eu me tornara amiga do tripulante que dera o pito na fofa rebelde do celular.
Conversando ele comentou que era muito comum em situações de turbulência os passageiros entrarem em pânico e tentarem contato com alguém em terra.
Fogo Amigo – mas o que me deixou mais perplexa foi uma das resoluções de segurança da ANAC : se por um lado tesourinhas de unhas são confiscadas, por outro estão liberados os isqueiros. Como assim cara pálida?! Pois é assim.
Com leis como essa, precisamos, além de um piloto que seja um bom comandante como do JJ-3320, também de muita sorte – para que os isqueiros que entram a bordo estejam sempre em bolsos de homens de bem.
3 Comentários
Henriete
15/04/2015 as 08:31Querida Claudia, que texto lindo! Obrigada! E Porque? O comandante que você cita no texto, que aliás tem 40 anos e só de TAM 12 anos de casa, é meu marido. Nós agradeçemos o seu carinho e o reconhecimento do trabalho que ele tanto ama, apesar de o fazer ficar muito tempo longe de casa, da família e do amigos, e mesmo, com todo o estresse e o cansaço diário, é revigorante saber que seu esforço e profissionalismo é reconhecido, assim como de toda a tripulação que o acompanha em sua jornada! Muito obrigada! Um beijo, Henriete!
Claudia Matarazzo
15/04/2015 as 16:36Ah Henriette que prazer!!! Como é o nome do ” nosso ” comandante? Ele foi nosso herói aquele dia…Vôo muuuito , hoje mesmo voltei de MG semana que vem tenho mais duas viagens, e vou ficar de olho e perguntar por ele. Me chamou realmente e atenção a voz tranquila dele em uma situação difícil e o semblante abatido com tudo aquilo. E aquela tripulação em especial era muito bacana. Grande time ! Quero voar nova,ente com eles sem tanta emoção”
Deus abençoe todos vocês, e um beijo grande pra vocês!
Aeroportos para se divertir- e até praticar esportes radicais. | Claudia Matarazzo
06/05/2016 as 00:19[…] Eles usam coletes vermelhos e são fáceis de reconhecer. São os voluntários que, por iniciativa própria andam com seus cães nas portas de saída de cada terminal, oferecendo o carinho dos animais e informações a passageiros estressados ou em pânico. E também ao que gostam de animais e estão impacientes ou entediados. A interação e alívio são é imediatos e, em alguns casos as pessoas quase perdem a hora do vôo… […]