Não sou muito afeita a me afogar em crises ou momentos difíceis. Minha amiga Susie, usa a parábola dos sapinhos para ilustrar os 2 tipos de comportamento diante de uma crise – seja ela de que tamanho for: o sapinho depressivo que, caindo em um balde de leite se lamenta alto dizendo que está cansado e vai se afogar. E se afoga. E o maníaco que, ao se ver dentro do leite começa a bater pernas frenético, sem pensar até que, o leite vira manteiga e ele, lépido, salta para fora.
Ela diz que eu sou o segundo – e concordo: crises tem que ser enfrentadas, administradas, contornadas, enfim: tudo menos nos afogar nelas. Tanto é assim que, de forma geral consegui passar pela vida (privilegiada, reconheço) sem me lamentar. Nem mesmo das crises que, alegadamente todas as mulheres enfrentam.
Crise dos 30 – nem soube o que era – estava ocupada demais, me apaixonando, entre outras coisas boas.
Crise dos 40 – não percebi – estava terminando o meu terceiro livro e minha filha acabava de nascer.
Menopausa – nem liguei: detesto frio e o calor permanente nunca me incomodou demais.
Crise dos 50 – se não houve dos 30 e 40 por que raios eu haveria de me atrapalhar mais madura etc.?
Crise dos 60 – dei risada e achei que era com os outros.
A Real Idade – em 2020, a pandemia me pegou aos 61. Quatro anos se passaram e várias vezes percebo que acordo com …78, talvez? Sim, de repente me percebo com pensamentos soturnos, movimentos muito lerdos – alguns já dificílimos de fazer, além de uma enorme dificuldade de ver algum sentido em desempenhar tarefas do dia a dia.
Percebo um sem-fim de mudanças – para muito pior – até mesmo nos espíritos mais otimistas e doces: nossa alma está alterada, nosso futuro incerto, o presente embaralhado, o dia a dia difícil e o passado… ah, o passado!
Nosso passado está como que invalidado: não mais isso, não mais aquilo, isso não pode mais e não sabemos se voltará a poder. Diálogo, encontros restritos limitados… Limitados as telas e a comunicação virtual, pouco a pouco estamos ficando mais inseguros em vez de maduros.
Ok, você não tem nada a ver com minhas pseudocrises e dificuldades motoras. Massss se está sentindo um não pertencimento estranho, medos e incertezas inéditos e sente-se confuso saiba que não está sozinho. Estamos passando por aqueles momentos históricos de depuração de valores, rupturas e novos rumos. A confusão, portanto, faz parte. Resta saber se quando a poeira baixar e conseguirmos emergir para a superfície (ou para fora do balde da parábola de minha amiga) ainda teremos fôlego para respirar aliviados. E finalmente sorrir.
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