1

Bhutan – O Exílio da Paz

 

bhutan_paro-airport_eduardo_shimahara_amenimario

Isolamento

O país conhecido como Druk Yul (Terra do Dragão, na língua local Dzonga) é comumente descrito como a última Shangrilá.

Com um mundo cada vez mais globalizado (talvez ocidentalizado deva ser a melhor palavra para descrever nossa situação atual), onde todas as cidades parecem convergir para as mesmas marcas e estilos de vida, este pequeno país localizado na cordilheira do Himalaya resiste. Fiquei muito feliz em não ver nenhum dos conhecidos restaurantes de fast-food, outdoors das grandes marcas, entre outras tantas imagens tão comuns no Ocidente.

butao26-shima-monte-everest-kathmandu-paro

Graças ao sábio governo de seus cinco reis ao longo da história, a abertura para o Ocidente e seus visitantes tem sido gradual. O país recentemente se tornou uma “Monarquia Constitucional”, onde ainda figuram o rei e rainha como cabeças do Estado, mas com poder distribuído e um Primeiro Ministro. Quando a transição para a democracia foi anunciada, o povo Butanês chorou e se desesperou, o que mostra a sabedoria de seus monarcas ao longo do tempo. Esta devoção do povo, em especial ao 4º Rei – Jigme Singye Wangchuck, pode ser vista e sentida ao longo de toda a viagem. Fotos dos reis e rainhas estão nas paredes das casas, restaurantes, hotéis, e em todos os lugares. O rei e rainha atuais não vivem num palácio ou fortaleza, mas numa pequena casa bem escondida na floresta ao lado da imponente fortaleza de Thimphu – a capital – e voam em aviões comerciais comuns. A passagem de poder e transição para uma democracia foi uma decisão do 4º rei.

butao2-shima

 

Este isolamento criou um cenário absolutamente único no mundo, que pode ser visto nas roupas, costumes, e principalmente na incrível arquitetura. E se ele não for suficiente para deixar você de queixo caído quando chegar, você ainda pode colocar algum vilarejo rural no roteiro. A pequena vila de Rukha, recentemente, depois de dois anos de preparação, abriu-se para receber turistas interessados no Butão literalmente intocado. Para se ter uma ideia, quando chegamos à vila, o responsável pelo turismo local organizou uma pequena cerimônia para nos receber com danças e canções que datam do século VIII, afinal fomos os primeiros ocidentais a visitar o lugar e se hospedar no vilarejo. Para chegar ao local são necessárias seis horas de caminhada, mas que valeram cada passo. O extremo isolamento e a hospitalidade e humildade de seus habitantes nos permitiu uma experiência absolutamente única e que nunca vou esquecer. A vila de Rukha é uma das seis vilas que tem permissão do governo para pescar um específico tipo de truta e prepará-la defumada (Nga-Dô-Tshem). Este peixe é pescado depois de sua desova no rio e é um dos pratos preferidos da realeza do país. Sempre que existe algum evento real, as pessoas desta comunidade têm bastante trabalho para suprir os “banquetes”.

por Eduardo Shimahara –

Brasileiros Viajantes




Butão – onde se respira beleza e espiritualidade

Bhutan_Buddhism_20160115_amenimario

Como parte de seu mestrado, “Shima”, como é chamado pelos amigos, ficou várias semanas no Butão, e aqui, fizemos o resumo de seu minucioso relato ( em 10 partes) onde fala sobre a espiritualidade – apenas um dos aspectos do lugar – percebida na brisa, nas conversas e na paisagem desse país surpreendente.

Ameni 2016 Bhutan-People-Queen (4)

 A espiritualidade do Butão

Não há como separar espiritualidade e Butão. Seja nas florestas de pinheiros e ciprestes, nos rios que descem das mais altas montanhas dos Himalayas, seja vendo as estacas com bandeiras brancas no meio de florestas verdes, parece haver algo mais no ar.

É possível ver o Dragão Branco, avistado por um dos fundadores da Nação, ao sentir o vento que corta as florestas. E a cada penhasco por onde passamos, nossos guias assobiavam para chamar o Lungtha (o cavalo do vento) e recebiam em troca, uma leve brisa que refrescava a caminhada.

bhutan-landscape-amenimario

Ao entrarmos no Tiger’s Nest nosso guia se prostra 3 vezes – segundo a tradição Budista. Ali, nada se pede, apenas se agradece. A seguir nos aponta um tapete no chão dentro de um dos locais mais sagrados do país, e nos convida a meditar ou apenas a agradecer. Nos sentamos, fechamos os olhos por alguns instantes e o leve cheiro de incenso nos leva para longe e, ao mesmo tempo, para perto.

Minha curta meditação me traz a mente palavras e sensações de imensa gratidão por tudo que pude experimentar e viver neste lindo país nas montanhas do Himalaya, que me fez pensar que talvez, de fato, outros modelos sejam possíveis.

Onde felicidade seja o principal indicador do seu povo e onde monarcas decidem abrir mão do poder em prol da democracia. Resta saber se a democracia será capaz de manter um equilíbrio entre modernidade e ancestralidade. O “desenvolvimento main stream” trouxe a lugares como Ladakh (India) ou Kathmandu (Nepal), a inequalidade, a criminalidade, a miséria, a fome e o lixo espalhado pelas cidades e rios.

E enquanto isto não acontece no Butão, é melhor você correr pra lá e sonhar um outro mundo possível.

Por : Eduardo Shimahara,  viajante apaixonado, hoje morando na cidade do Cabo com a família – http://www.nomadesdigitais.com

Salvar

Salvar