” Espere Presidente, espere! ” – disse ela, enquanto trocava o copo dele com o qual ele iria brindar com  água e lhe entregava um cheio de vinho.

Sem jeito, ele tentou se corrigir e procederam ao brinde em frente a centenas de fotógrafos que, naturalmente, se deliciavam com a confusão e a quebra de protocolo.

A aflição da Rainha procede: quem conhece um pouco a tradição européia sabe que, brindar com água é proibido pois dizem que dá azar. Ou, como a palavra era proibida entre os reis antigamente, traz má sorte…

A verdade é que existem uma série de lendas  e crenças ligadas ao vinho
e ao momento do brinde e, como esse tem um forte simbolismo, é bom que a gente fique atento pois, entre os que levam a sério a bebida, pode realmente causar uma saia justa….

Brindar com a mão esquerda –  é bom evitar. O gesto é visto como falsidade. Talvez pelo fato de que, antigamente, se nesse momento todas as mãos direitas estivessem erguidas, e apenas um conviva estivesse com a mesma livre, ele poderia rapidamente sacar a espada ou pistola e atingir quem quer que fosse….

Servir o vinho com a mão esquerda – também visto com desconfiança pelo mesmo motivo.

Servir entornando o vinho  virando a mão para fora –  em vez de girar para dentro,acredite,  também causa arrepios … Pelo menos em uma mesa com italianos ou descendentes supersticiosos presentes. Falo por experiência própria!

Beber antes de brindar – não faça isso. É indelicado com o anfitrião – e as pessoas reparam mais do que você pensa. Se estiver realmente com muita sede, pode tomar a iniciativa: erga a taça com a mão direita (sem encostar nos outros copos) e brinde a saúde de todos – que nunca é demais. E pronto, agora sim, pode se deliciar  com a bebida!

 Pode até ser louvável que em meio a tantos personagens grotescos da política alguém se preocupe com boas maneiras. O problema é se entusiasmar demais e viajar na peruca…

Foi o que aconteceu com o nobre vereador, presidente da Câmara dos Vereadores de São Bernardo do Campo em São Paulo.

Autor do Manual de Etiqueta do Vereador, ele vem sendo duramente criticado, de modo que, ao tomar conhecimento do assunto fui pesquisar no site São Bernardo do Campo Info – o motivo – afinal de contas, não posso achar ruim alguém valorizar um assunto que venho difundindo e pelo qual batalho há pelo menos 30 anos por todo o país

Logo de cara me entusiasmei com alguns dos mandamentos como os conselhos para o visual masculino:

“Não use meias claras nem brancas com trajes escuros” – bingo. É o básico, mas muita gente continua usando e é realmente muito feio..

Outro:

“Evite gravatas de bichinho” ou “jamais cumprimentar alguém com a mão mole ou tocando apenas as pontas dos dedos.”

Envaidecida, achei até que ele havia se inspirado em um dos meus livros, o Etiqueta sem Frescura, uma vez que algumas dicas usavam até mesmo a mesma expressão.

Ok, calma, afinal as craques e queridas Costanza Pascolato e Gloria Kalil também sempre orientaram seus seguidores com os mesmos conselhos…

E segui divertida com o empenho e a atenção ao detalhe, do senhor Cartola: ela dá conselhos sobre perfume para mulheres, decore, altura dos saltos, rendas e babados… quase um personal Stylist...

Aí me deparei com o seguinte:

“O aperto de mão deve ser firme e com três sacudidelas”. Como assim vereador? Importa tanto assim o numero? De onde será que surgiu essa pérola?

Segui mais desanimada, aí encontro:

 “Evite gravata frocha no colarinho”. Afrouxei o ânimo e de vez.

Admiro a preocupação do vereador mas acho que talvez fizesse mais pelo município preocupando-se com o dia a dia, e as questões básicas e, no quesito etiqueta basta indicar um dos muitos livros publicados sobre o assunto.

Afinal, foram escritos por especialistas e passaram por uma revisão gráfica – evitando assim perpetuar enganos e erros de digitação…

A história correu as redes sociais e  ilustra a complexidade de etiqueta – não apenas no que concerne aos smartphones mas também no supermercado: falar ao telefone no caixa é inaceitável  – mas permitido –  e atrapalha muito!

Os supermercados não possuem uma política rigorosa de regras de etiqueta mas elas existem – e são bastante simples – além de facilitar demais o dia a dia…

1. Você não está sozinho –  nada de ignorar as pessoas  conhecidas ou esconder-se  delas . Cumprimentar é realmente uma cortesia, portanto, não se sinta ofendido quando alguém faz isso com você.

2. O  Papo tá ótimo! –  se parou para conversar ou mesmo trocar informações sobre produtos seja breve e, se não parar, certifique-se de encostar bem o carrinho para não atrapalhar. Mas por pouco tempo para não obstruir o acesso a gôndola… 

3.Degustação –  se aceitar uma amostra de algum promotor cordial tenha em mente que a pessoa que entrega não é o fabricante  – de modo que reclamações ou mesmo elogios sem fim não serão levados adiante…

4. Carrinho Turbo – ande com cuidado pelos corredores – por mais pressa que esteja, há idosos e gente com criança que não tem a mesma destreza que você.

5. Cheirar sem abrir – já vi muita gente rompendo lacres para cheirar produtos de beleza. Resista. você compraria um tem aberto assim?

6. Sem aula de gastronomia – se um item exótico ou desconhecido confundir um funcionário, não precisa explicar dando a receita completa de como preparar: lembre que ele e os outros clientes tem que continuar o dia . Assim, diga apenas : “é cupuaçú – e dá para comer fresco ou em doce”..

7. Celular desligado – é o ideal . Mas se falar não grite. E se teclar, saia do caminho e faça iss onde não atrapalhe. Simples assim – que é para não pagar o mico que o cliente do atendente impaciente pagou.

E, vamos combinar – acho que  o funcionário tinha toda razão . Se eles tem que nos dar toda a atenção na hora de servir, nós também temos  que agir assim para pedir.

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