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Que nada nos limite!

Durante os meus quatro meses de isolamento social li e escutei muitas vezes de algumas pessoas, que acomodadas no discurso da quarentena, justificam suas próprias limitações. Não quero aqui afrouxar a responsabilidade do Governo em contemplar em suas políticas públicas a pessoa com deficiência em todos os sistemas gerais da sociedade. É uma luta que temos e que resistimos mesmo diante dos dados que insistem em se apagar diante de tantas incertezas. Afinal, somos 46 milhões de pessoas com deficiência espalhados por esse Brasil que, mesmo sem acesso, encaram a vida para serem, em primeiro lugar, pessoas.

A luta começa no café da manhã – essa absurda comparação me deixa em alerta. Assustada para dizer o mínimo, porque estamos num momento pandêmico e as lutas internas e pessoais jamais vão podem ser comparadas às lutas coletivas contra um vírus que é letal a todos com ou sem deficiência. As pessoas que fazem essa comparação são justamente as que poderiam reforçar o time para aumentar as contratações no mercado de trabalho, compreender e praticar a mudança de conceitos, participar ou ajudar a formar os Conselhos, lutar para que as escolas não rejeitem matrículas, exigir que 100% da frota de ônibus seja acessível, cobrar da OMS nossa inclusão como grupo de risco, já que demandamos mais contato para nos locomover, e seria justo termos atendimento prioritário diante da situações provocadas pela covid-19.

Desafio invisível – nunca na história da nossa geração vivenciamos um isolamento social onde o abraço nos foi retirado. Onde receber um amigo em casa virou um risco de contágio. Essa falta de acesso ao carinho e ao encontro dos nossos sentimentos nos foi excluído sem nossa permissão. A invisibilidade que conhecemos e usamos para nos referirmos à falta de acesso, jamais será fatal como a invisibilidade de um vírus que está entre nós. Ainda está.

A acessibilidade é muito importante, mas não é o grande desafio. Ela é uma questão técnica que se resolve de várias maneiras. O grande desafio hoje é escapar do invisível sem ser infectado. Eu quero ser incluída quando a comparação for feita entre os que conseguiram sair dessa com a vida preservada e os que batalham para que o viver seja, ainda que nos falte acesso mas nunca coragem, um lugar onde se acredita, exista respeito, que seja digno, um lugar que se construa cidadania, onde a gente lute por direitos e que possamos ser felizes.

 




O que Aprendemos na Pandemia

Tirando a tragédia de milhares de vidas, vale pensar em lições aprendidas nesse tempo histórico e tenebroso que estamos vivendo.

Podemos fazer (quase) tudo a distância – o tal comércio online funciona melhor do que se imaginava. Para quase tudo. A formação acadêmica ainda será um problema, mais por falta de estrutura e vontade política.

A tecnologia é nossa amiga – as lives fazem companhia, os canais de Youtube ensinam, os aplicativos facilitam a comunicação. E nem foi tão difícil aprender. Quem ainda não usava, acelerou, respirou e…  aderiu!

Pressa é uma doença – eventualmente podemos deixar alguma coisa para o dia seguinte – e até para a semana. E com isso aprendemos a priorizar – eu pelo menos, já fazia isso antes e agora estou levando esse exercício a extremos gratificantes!

Melhor percepção da natureza – não sei você, mas eu, que nunca tive dedo bom com plantas, de repente comecei a insistir em mais vasos, horta em casa etc. E não é que, cuidando, observando e cultivando sem pressa, elas respondem bonitinho? Não vou me espantar se começar a falar com elas…  se responderem, talvez estranhe muuuito!!!

Descobrimos novos talentos – duvido que alguém tenha passado por tudo isso sem descobrir que sabia fazer algo sequer imaginava gostar antes da pandemia.  Até os mais desanimados de repente aprenderam a cozinhar, costurar, pintar, consertar coisas, ajudar os outros, ensinar…

Quase sempre pode ser fácil – tanta coisa parecia tão difícil e depois foi se acomodando! A casa limpa sem ajuda, as crianças em casa, o companheiro/a junto…. Não foi fácil, mas pensando bem, agora não é mais tão difícil assim.

Descobrimos quem é quem – desvendamos o caráter (para o bem e para o mal) de um por um dos amigos e familiares mais próximos. E, apesar de algumas surpresas desagradáveis, tivemos outros gratos resgates – eu pelo menos tive!

Outro olhar para o companheiro/a – ainda não está dita a última palavra e relacionamentos ruins não iriam sobreviver mesmo. Mas, muitos que vivem casamentos estáveis relatam, mesmo depois de muitos anos, terem tido surpresas boas – e vínculos fortalecidos

Como disse, não fosse tanto Desgoverno e a tragédia Global da pandemia, poderia dizer que esse estranho e implacável intervalo de tempo, pode ter servido para acertar vários ponteiros internos da humanidade. Ou viajei?!




Qual serviço de mesa usar agora?

Muitas pessoas já mudaram seu comportamento – e , na abertura de bares e restaurantes, que vai variando conforme o comportamento e a curva de contágio,  o tipo de serviço terá implicações  na hora das refeições, independente de reuniões sociais ou de negócios.

Não serão todos os tipo de serviços de mesa, que serão aceitos. Alguns podem até deixar de existir.

 Em restaurantes –  além do bufê onde apenas um profissional serve do outro lado ao cliente, há a alternativa de trazer o parto pronto da cozinha, no tradicional `a la carte. 

Em Casa – pelo menos por enquanto, temos uma outra opção: o serviço “a inglesa indireta”, que é aquele em que um só profissional serve os pratos a cada convidado com o  apoio de um carrinho (gueridon) com as travessas.  Esse serviço foi muito usado até algumas décadas atrás e restaurantes.

Serviço Franco americano – bufê com os convidados se servindo.  É aceitável, mas aqui seria interessante, novamente inverter uma regra: como os lugares estarão colocados a mesa, cada convidado serve-se a primeira vez com seu próprio talher (que estará sem uso) e para uma segunda vez, talheres extras estarão colocados para que ele se sirva e depois os deposite em um recipiente ao final do aparador especialmente para isso.

A alternativa segura – seriam luvas para se servir (mais uma vez oferecidas pelo anfitrião) – mas parece um tanto exagerado e sem o menor glamur, certo?

Cafezinho – tanto na empresa quanto em casa com cafeteira de expresso ou bule, o ideal é que apenas o anfitrião (ou copeiro) manuseie. E entregue com pires (mesmo copinhos descartáveis) para a pessoa evitando tocar em copos e xícaras que irão direto aos lábios do outro.

Saquinhos sim: o anfitrião pode dar esse toque e oferecer saquinhos plásticos na sequência para que todos tenham onde guardar e não aconteça um festival de máscaras largadas sobre sofás etc.

Dito isso, o momento aperitivo deve ser agilizado – no sentido de que as pessoas deveriam sentar a mesa na sequência para a refeição.

Distância correta: não tem jeito 1,5m é o mínimo do mínimo – sem máscara. Portanto mantenha o espaço pronto para mesas maiores ou duas mesas com mais espaço entre as pessoas.

No caso de reuniões de trabalho, optar por grupos menores, e reuniões híbridas – meio virtuais meio presenciais pode ajudar.

Será exagero? As opiniões aqui, são divididas, mas para mim não! Essas são as alternativas para se reunir sem “perigo”. Sim, em aspas, pois se nos sentirmos realmente seguros, baixamos a guarda.




LIVE DE TUDO!

Se há um segmento/mercado que floresceu na Pandemia, o das comunicações virtuais é um deles. As Lives, que existiam discretas e segmentadas, democratizaram pra valer: todos podem ser anfitriões, entrevistar quem quiserem e, principalmente, apresentar seus talentos, projetos e conteúdo a um público que, em tese, é ilimitado.

 

Cardápio virtual – podem ser encontros musicais, culinários, zen com meditação passo a passo, médico-científicos, eróticos, intelectualizados, de humor …

Além do Instagram – rapidamente outros formatos se popularizaram: temos por zoom, facebook etc. – vale tudo, desde que a conexão esteja boa e o anfitrião não perca o timing. Pois, tão fácil quanto entrar em uma live é sair dela! Tá chato? Procura outra. É como zapear canal no controle de TV…

Ao vivo e de graça – no início eram todas gratuitas, mas, aos poucos os artistas, abandonados pela secretaria da Cultura e nunca prestigiados por esse governo, começaram a se organizar. Os grandes nomes não tiveram dificuldade em encontrar apoio e patrocínio, mas, a maioria dos artistas – de circo, de pequenos teatros, de clubes noturnos – os talentos anônimos que tecem a trama da alegria em nosso dia a dia, continuam a sofrer com a falta de bilheteria.

Chapeuzinho Virtual – é a bilheteria virtual das lives, que permite ao público pagar pelo que assiste. Quem gostou paga, e alguns artistas já colocam o sistema de pagamento em link com seu perfil para que o espectador possa remunerá-lo, nem que seja com um valor de Gorjeta.

As Vantagens:  em uma live podem entrar mais pessoas do que em alguns teatros (em média com 100 a 200 lugares) então a bilheteria, dependendo da apreciação do público, pode ser consistente. Muitos performers arrecadam pelo menos 50% do que ganhavam antes. Ainda é pouco, mas melhor do que esperar algum programa social que, se vier, será como esmola.

Vários pontos positivos – o alcance mais democrático, o conteúdo variado, a distração e o divertimento são grandes vantagens dessa profusão de encontros mas, de verdade, o que me encanta é perceber que, aos poucos, o público se organiza para prestigiar seus artistas – sejam quem forem – cada um procura e valoriza seus preferidos e há uma natural organização por parte da sociedade em um movimento solidário jamais visto!

Pagam sim – e por que não?  –  é lindo ver que contribuem como podem, mostrando que o alimento da alma é tão ou mais importante que o das prateleiras de supermercados. É a Arte, em suas múltiplas formas, mais do que nunca rompendo fronteiras, alcançando corações e conquistando seu espaço – magnífico e imortal – apesar da boçalidade reinante.




Nossos vovôs e a pandemia

Vivemos numa realidade na qual o distanciamento físico foi imposto. Era preciso que houvesse um espaço para preservar e cuidar das pessoas, principalmente das idosas e com outras doenças (comodidades).

As pessoas começaram a vivenciar um medo muito forte e eminente de que pudessem contrair este Vírus e desta forma correr o risco de morte. Ou talvez de levar está doença a pessoas queridas e amadas

Começou a haver além do distanciamento físico também um afastamento emocional. Ou seja, não estar junto ao neto; deixar de dar aquele abraço ou comer aquele alimento de amor e sabores especiais, ficou proibido.

Está situação tem gerado além da falta física do beijo do abraço, da proximidade que todos sabemos ser fonte de vida e transmissão de amor!

O que ficou? Um grande vazio e para alguns idosos, uma certa dor misturada de mágoas de um tempo de incertezas.

De um tempo no qual os dias perderam suas características e suas identidades.

O sábado dia de estar com avós; momento de encontros e trocas – teve que ficar num certo vazio. Quem sabe inventar uma forma de um outro encontro, enviar fotos, enviar mensagens ou cozinhar pelo vídeo.

Tudo e possível. E sabemos que passa.

Mas também sabemos que nada substitui a presença ou será que a gente consegue com nossa força e resiliência virar o jogo???

Podemos mais que imaginamos, somos criativos, mas a saudade e a falta fazem parte deste processo de elaboração da realidade.

Colaboração: Dorli Kamkhagi