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Melhor ser balão que alfinete

Nós somos gentis conosco mesmo? Para entender a melhor essa importante qualidade, podemos começar fazendo essa pergunta – primordial para desenvolver nosso pensamento sobre o assunto: o quanto nós somos gentis em nosso relacionamento intrapessoal (aquele em que somos nós e nós)…

É preciso esclarecer que ser gentil conosco, não é “passar o pano” para nossas palavras e atitudes. E sim, cuidar de nós mesmos, com carinho, compreensão, coragem e vontade de melhorar, crescer, nos tornarmos cada vez mais ‘do bem’.

Não é papo de almanaque: arrisco afirmar que apenas sendo gentis primeiro conosco, conseguiremos ser naturalmente gentis com os demais.


Ser gentil com o outro
– envolve tantas percepções, cuidados e delicadezas… Além de ser um exercício agradável depois que nos acostumamos a ele: é preciso sempre estar atentos para as condições em que o outro se encontra. Isso envolve percepção ligada e sensibilidade…

Quando conquistamos a capacidade de calçar o sapato do outro (a tão usada, mas menos praticada empatia), automaticamente passamos a ser mais e generosos com nossos interlocutores. Provocando, sem perceber, uma onda de gratidão e bons sentimentos.

Receita da gentileza – cautela e generosidade como base, claro. Um toque de humor e leveza, a capacidade de rir de si próprio (ajuda muito) e, finalmente, uma boa dose de flexibilidade (ou jogo de cintura) que facilitam qualquer relação. Ingredientes que apreciamos imensamente nos outros e que, por custar pouco, embora sejam raros, devemos usar em cada pequeno gesto cotidiano e não apenas (forçadamente) em ocasiões especiais.

Acredite: ser gentil na conjuntura em que vivemos, nos torna especiais e valiosos. Sabe por quê? Segundo a professora Astrid  Bodstein, de Cuiabá, que inspirou esse texto, é porque hoje somos  “balões cheios de sentimentos, rodeados de alfinetes”

A imagem é perfeita! Infelizmente, há muito mais pessoas querendo nos espetar/machucar, do que nos abraçar empaticamente com carinho verdadeiro e altruísta. Exemplo prático deste contexto: se puder deixar de comentar algo que não vai acrescentar nada para o outro, ou pior ainda, algo que talvez vá machucar, cale-se. Abstenha-se. Essa deve ser a nossa escolha amorosa.

Para todos – Muitas vezes vemos pessoas supersimples, rústicas mesmo, com gestos de extrema delicadeza – elas nos surpreendem – mas é que já nasceram com o instinto do quanto se pode alcançar mais conquistar boa vontade dos outros apenas pela gentileza…

Pois é: gentileza é como a água na natureza: está ao alcance de todos, mas a palavra-chave é “cuidados”. Aguce sua percepção, incorpore aos poucos palavras e atitudes gentis. E repare como a vida fica muito mais leve quando somos gentis!!! E voltando a imagem do balão: prefiro ser balão, pois além de ninguém gostar de alfinetes, tendemos a usar os mesmos para tarefas provisórias e imediatamente guardá-los isolados, em caixas seguras pois ninguém quer ficar perto deles.




Gentileza ou valentia?

O que motivou tudo isso, não vem ao caso – a questão é que, no andar da carruagem, o mundo caminha para o precipício de um buraco negro árido, onde afeto, acolhimento e abraços estarão permanentemente banidos – ou minimamente vistos com estranheza…

Na dúvida entre gentileza e valentia andam optando demais por essa última que, apesar de ser uma virtude, no trato pessoal pode ser terrivelmente nociva…

Existem alguns conceitos e palavras chaves que tem sido banalizado a ponto de serem distorcidos e atrapalharem, muitas vezes criando percepções equivocadas que travam as relações mais simples…

Praticidade – muitas vezes ela atropela, ou enfeia. Ou mesmo não agrega nada ao momento que você quer construir. Nem tudo precisa ser prático e quase sempre, algo mais trabalhado, artesanal, pouco prático mesmo mas confeccionado com um simbolismo ou capricho pode ser muito mais adequado, emocionante, bonito enfim: uma melhor escolha…

Rapidez
– hoje todo mundo tem muita pressa. Pra chegar aonde mesmo? Rapidez nem sempre assegura prazer ou eficiência. Aliás, quase sempre resulta em falhas. Por que tem que ser rápido? E se quero prolongar algo porque gosto? Ou prefiro funcionar de maneira mais tranquila? Que diferença pode fazer na vida esse tempo atropelado? O “tempo de qualidade” que tanta gente fala (mas do qual poucos desfrutam) é um dos maiores luxos do mundo contemporâneo. Produto de alto luxo para poucos mesmo. E não porque a maior parte de nós precisa trabalhar para pagar as contas, mas porque a maioria não tem ideia de como priorizar e usar o seu tempo livre. Pois é.

Pobre é a pessoa que vive correndo em seu dia a dia, julgando-se atarefada. Aquela que sabe fazer pausas, e sobrepõe sua vontade aos apelos de máquinas e do sistema é a muito mais poderosa – e feliz, acredite.

Modernidade – não é porque é moderno que funciona melhor. Antes de aderir as novidades – principalmente as que dizem respeito a comportamento e relacionamento, pense. Respire e questione se é “para esse caso específico…”

Sinceridade – é uma virtude, claro, mas apenas e se pedirem sua opinião. Ainda assim: seja muito gentil se for para emitir uma sinceridade que possa magoar a outra pessoa. Ou simplesmente se abstenha. 

Gentiliza passa por evitar essas armadilhas tão frequentes em nosso dia a dia – que já não e fácil. Tem a ver com atenuar – e não esfregar sal nas pequenas escoriações que frequentemente doem mais do que grandes mágoas. 

Finalmente, não se iluda com a valentia de fachada que muitas vezes testemunhamos em redes sociais – a longo prazo, a gentileza é muito mais eficiente e fideliza amizades muito melhores do que a valentia – não acham?