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“Iaiá, você vai à Penha?

Igreja e Convento de Nossa Senhora da Penha, em Vila Velha, Espirito Santo. Na imagem noturna, aparece toda a construção, na cor branca no topo de um monte sobre as pedras e apenas uma escada de muitos degraus.

No alto de uma montanha de pedra, há mais de 400 anos, o Convento de Nossa Senhora da Penha, se mistura a história do povo capixaba e resiste aos tempos e ventos de Vitória.

Todos os anos na “Festa da Penha”, em um momento importante de fé e devoção, mais de 1milhão de pessoas sobem o penhasco para fazer seus pedidos e agradecer.

E em 2006 as pessoas com deficiência passaram a compor esse grupo de romeiros que além da confiança na virgem, colocam em prática sentimentos e demandas de cidadania.

Novos tempos velhas práticas – foi o Frei Pedro Palácios em 1558 quem deu inicio a essa grande festa, na época sem ter a acessibilidade.

Hoje, em pleno século XXI ainda não é possível uma pessoa com deficiência acessar e conhecer o imponente patrimônio histórico do Espírito Santo.

Rapel e escalada – incrível mas, no momento, essas são as únicas alternativas, para chegar lá, para quem não caminha.

Ora, eliminar as barreiras físicas e sociais dos espaços, edificações e serviços destinados à fruição do patrimônio cultural é medida indispensável para que as pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida possam ser incluídas no processo de conhecimento de nossa cultura e história.

Falta vontade política, força e informação – hoje, toda edificação tombada precisa de adequações para o uso – e isso não inclui apenas a acessibilidade, mas também banheiros, piso adequado e sinalização. Portanto, a questão não é ‘se’ fazer e sim ‘como’ fazer”.

Tombado não quero dizer imexível – um dos motivos pelos quais o acesso a bens culturais é dificultado para pessoas com deficiência, é a falta de informação. Há uma falsa noção de que o tombamento impede qualquer tipo de transformação, que o lugar perderá sua identidade.

Não é bem assim – há um mínimo de preservação e um mínimo de acessibilidade que devem ser respeitados em qualquer edificação tombada. Para que se preserve a identidade do bem cultural, deve prevalecer a distinguibilidade, isto é, saber discernir o que é original daquilo que foi transformado. Quanto à acessibilidade, é simples de entender e de executar – desde que haja empenho: todos devem conseguir entrar, se orientar, circular e usar os serviços com facilidade e autonomia.

Nadamos, nadamos, e morremos na “Prainha” – Há pelo menos 4 anos atrás estive em um debate importante junto com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN sobre o projeto de acessibilidade do Convento. Foi animador e esperançoso. Mas, acho que o movimento e a participação não foram fortes o suficiente para fazer acontecer.

Está na Lei e é para fortes – os desafios são gigantescos, mas, de maneira alguma, arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo. Que a Romaria das Pessoas com Deficiência reacenda – sempre – o debate sobre o acesso pleno ao Convento da Penha e, quem sabe nas próximas festas não somos convidados a entrar, cantar, renovar a nossa fé, e contemplar lá do alto a tão esplendorosa vista? Assim seja!

Igreja e Convento de Nossa Senhora da Penha, em Vila Velha, Espirito Santo. Na imagem , aparece toda a construção, na cor branca no topo de um monte sobre as pedras e apenas uma escada de muitos degraus.