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Posso ajudar?

Um homem vestido de terno escuro segura na palma de sua mão um sapato de salto alto todo bordado de cristais - lembrando o sapato da Cinderella nos contos de fadas.

O cara era enorme e rodopiava em fúria. E me pegava com tanta força – a cadeira de rodas é uma extensão do nosso corpo – que,se não estou em dia com meus exercícios estaria fazendo coreografia de chão.

Dançar foi a única coisa que não se conseguiu. Antes que tudo piorasse e umas doses a mais fizessem efeito, dei um jeito de escapar daquele “pas de deux” desastroso.

Aprendendo com as diferenças – é natural que, por não terem convivido com pessoas com deficiência, alguns tenham dificuldade para lidar com isso na prática.

Ora, quando nos deparamos com pessoas que – por características ou comportamento – não se enquadram em nosso “padrão de normalidade”, ocorre uma ruptura na rotina da interação social. E ficamos perdidos, sem saber como agir.

Somos diferentes em nossas deficiências – é isso aí. Fico alarmada quando vejo cartilhas espalhadas, ditando regras de como lidar com as pessoas com deficiência. Não que sejam de todas ruins, mas, são preocupantes, para dizer o mínimo. Nascemos diferentes e isso é fato, logo, um cadeirante não é igual ao outro, assim como o cego, o surdo e outros com outras limitações, também não são.

Sinalize mas não insista – repare como ficamos à vontade com aqueles funcionários nos supermercados com a camisa escrito “posso ajudar”? É isso! Eles estão ali, prontos para nos auxiliar -mas sem nos invadir.

As pessoas com deficiência têm direito de tomar suas próprias decisões.

Se encontrar alguém com deficiência que pareça estar em dificuldades, identifique-se e pergunte se realmente quer sua ajuda. Ah, e, se convidar pra dançar, aguarde a resposta: lembre que a dança da vida é alma – e não força.

Preparado para um “não”? É melhor não ajudar antes de perguntar e nunca insista ou subestime sua capacidade. Não se ofenda se uma pessoa com deficiência dispensar sua empurradinha, ombro amigo, ou até mesmo um convite pra dançar. Muitas vezes pode ser mais seguro e elegante.

Convivência: melhor que cartilha – a interação de pessoas com diferentes singularidades, inclusive a deficiência, facilita a quebra de barreiras, proporcionando oportunidade de ajuda, de trocas significativas, de constatações positivas diante do amigo diferente. Além da construção de vínculos que se expressam em valores importantes para todo o cidadão – como o respeito e a solidariedade.

E o lado bom da VIDA é que ela nos surpreende sempre: não é que aquele moço que me tirou pra dançar virou um amigo “expert” em diversidade humana!? A dança agradeceu…