Liberdade de Cair
Dia desses, às voltas com uma rampa desnivelada e esburacada levei um belo tombo – cadeira de rodas e tudo. Nada de sério, mas, quem estava por perto partiu apavorado pra cima de mim.Nunca tinha visto tantas mãos diante dos meus olhos.
Confesso, fiquei chateada. Gostaria que tivessem dado uma boa risada e, só depois, fossem ver como eu estava. Teriam feito isso se eu não fosse uma pessoa com deficiência.
Estavam bem intencionados, e nem imaginavam que eu gostaria mesmo daquela coisa normal, que acontece quando se toma um tombo que, se vê logo, não foi grave. Ah como eu gostaria…
Antes que se consumasse o resgate desvairado eu disse firme: Peraí! Deixa que eu me “levante”. E fiz isso cantando Vanzolini: “levanta sacode a poeira e dá volta por cima”. E aí aconteceu a gargalhada de que eu precisava. A gargalhada que me incluiu. Que me fez sentir igual a eles, afinal quem nunca tropeçou?
Depois de ouvir os detalhes da minha queda hilária, da minha patetice (adorei isso!), passamos a conversar sobre os problemas de mobilidade urbana, calçadas esburacadas, rampas e corrimões que inexistem, carros sobre as calçadas, entulho, lixo e tudo mais que nos “derruba” – e não apenas quem está sobre rodas.
Num passe de mágica, viramos todos, cidadãos, a falar sobre problemas comuns – mesmo que em escalas diferentes.
Afinal, existem entre todos nós especificidades que nos distinguem, a espera do respeito que nos une. Os problemas de mobilidade são de todos, mesmo que atinjam de forma distinta cada grupo de interesse. Isso é igualdade nas diferenças. Isso é inclusão.