Vamos desafiar a lógica e falar de visual e cores – pelo menos para começar o ano e tentar virar a página… De verdade, acho que teremos que virar ainda várias páginas até chegar na história que queremos ler e viver, mas não custa tentar um respiro enquanto folheamos o presente, para nos distrair das misérias humanas e mundanas.
Sustentável mais do que nunca – a indústria da moda já vinha dando sinais de que era preciso acompanhar o sentimento de urgência e preservação do mundo e há algum tempo praticava o “upcycling” em seus produtos.
Ostentação e excessos – tanto em materiais quanto em preços começaram a se malvistos e cada vez menos praticados. As já começam a colocar nas prateleiras produtos feitos com seus estoques de matéria prima aproveitando até o último fiapo de trama.
Como refletir o momento? – acostumada a se expressar através de shows de desfiles, semanas de encontros de moda em 2020 a indústria viu-se diante do cancelamento de todas essas vitrines de oportunidades e venda.
Como interpretar os desejos e sonhos da humanidade agora confinada em suas casas, limitada a viagens essenciais e curtas? A Pantone, mais do que depressa lançou as cores “Illuminating Yellow” amarelo claro para nos dar alegria, remeter a ouro e literalmente nos iluminar e “Ultimate Gray”, cinza robusto e sóbrio para que lembremos que não dá pra brincar ainda.
Os fashionistas foram rápidos em inventar nomes para as peças que predominaram e que continuarão em alta no próximo ano: nossa roupa de ficar em casa foi promovida a “loungewear” – já conhecida, mas pouco familiar por aqui. Os mais descolados usam o termo roupa “Comfy”, que em inglês equivale a “gostosinha”. E os entendidos torcem o nariz para tudo: dizem que a gente não se veste para a solicitude e sim para aparecer. No que discordo ou melhor, concordo apenas em parte.
O que vestimos, reflete sim, o momento. E, como temos vivido mais dentro de casa, com muito menos oportunidades de nos exibir, é natural priorizar o que nos veste para nos acolher melhor em nosso próprio ambiente. Tanto no que diz respeito a conforto, mas também com uma nova estética – muito mais razoável do que saltos finíssimos ou altos e outros detalhes que hoje dispensamos sem nem levar em conta.
Mas há outra razão para se vestir nesse momento: é preciso fazê-lo, não para nos exibirmos, mas sim, para encarar o dia, as notícias e dilemas – nessa nova era, não é possível conciliar o sonho e glamur com perdas e luto: queremos algo que nos represente de verdade, para dar identidade visual não apenas a nossa alma mas, para que nos reconheçamos no espelho – fragilizados sobreviventes – nesse momento de aflição
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